SOZINHO

O brilho do suor no rosto expressava a labuta do dia, mas não significava que já era final. O sombrear das árvores testemunhava o cair da tarde e o aproximar da noite. Aquele olhar distante tentando desvendar o horizonte, mas a frequência do pensamento era absurda. Será que novamente as paredes seriam suas companhias? Ah! Deixa pra lá , com certeza vai ter alguém assobiando nas ruas de volta pra seus lares. Mas ele estava ali, sem entender porque escolheu o vazio da solteirice em vez de imitar seus pais, adquirindo uma família gigantesca com vinte e dois filhos. Tinha suas esquisitices mas não gostava da solidão. De vez em quando visitava aquelas moças solteiras e alegres, mas só quando o corpo cobrava, exigia. Nem mesmo sabia porque as pessoas o olhavam como se fosse um bicho. Era apenas um indivíduo só e nada mais. Assustou com o escuro, voltou o olhar pra dentro de si, deu um meio sorriso, que coisa, tava filosofando hoje. O que que o povo tem com isso? Se ele quer viver sozinho e daí? Quem pagava caro com isso era ele e não tinha que dá satisfação pra ninguém. Mas que bicho ele não era , não era mesmo. Até estava pensando em ir pra roça, onde ninguém toma conta da vida dos outros. O maior problema era as manias de cidade grande. Ia sentir falta do cheiro da poluição sonora, buzinas, multidão. Deus que o livra podia até morrer de tanto ar puro. Novamente buscando desculpas pra não ter que arrumar as malas. Tinha que resolver era ali mesmo e sabia o que fazer. Iria fazer uma leitura de sua vida, sua infância, adolescência. Também vasculharia sua mente adulta .Daí então, se encontrasse respostas , tentaria acabar com aquela agonia. Quem sabe se deitasse um pouco esqueceria. O negócio era apagar aquele rascunho que tanto matutava pra não ficar tão saudoso, afinal amanhã era outro dia.