O VOO DO ACENTO CIRCUNFLEXO

Sentei-me num banco daquele parque e lá fiquei bem tranquilo, ouvindo o canto dos pássaros, respirando o ar puro proporcionado pela rica vegetação. Havia muitas e muitas árvores, num verde exuberante, contrastando com os imponentes prédios da grande cidade.

Logo em seguida veio chegando uma mulher e seu filho, digamos que este tinha uns oito anos de idade. A mãe trazia uma gaiola com um passarinho. Pararam no banco mais próximo, e o menino bem sério, olhando para a gaiola. Ele ia perder aquele passarinho, que era bonito, de cor vermelha, sei lá o nome. A gaiola foi colocada sobre o banco e a mulher, sem hesitar muito, abriu a portinha. O passarinho logo tratou de aproveitar a liberdade oferecida e alçou voo.

A mulher não conteve o seu entusiasmo por ter praticado uma boa ação:

- Você viu, Pedrinho, viu que voo lindo?

E o menino bem sério, dizendo a si mesmo:

- Lá se foi o meu passarinho.

Mas teria de se conformar com a perda. Criar passarinho em apartamento não poderia dar certo. Era o que sua mãe estaria lhe dizendo no dia anterior.

O passarinho, pousado num galho próximo, ficou investigando os arredores. Ainda não acreditando que estava livre, procurava decidir que rumo tomaria a partir dali.

A mulher e o menino foram-se embora, levando a gaiola, vazia e inútil. E eu continuei tranquilo cá no meu assento, só observando aquele passarinho vermelho. Até que ele atreveu-se a ir adiante, e foi-se embora voando. Que voo lindo, diria a mulher.

Escrevo o que aconteceu, mas não digo que o voo fosse lindo, era um voo como qualquer voo. Até as aves feias têm o seu voo. Sem precisar de adjetivos, é palavra que por si só já diz tudo. Palavra simples e fácil, ainda mais agora que não tem mais acento.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 25/07/2011
Reeditado em 26/07/2011
Código do texto: T3117204
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