O poder da sintonia

Costumava almoçar no restaurante interno da empresa, depois que estivesse mais vazio, não gostava de enfrentar filas e barulhos na hora da refeição; e assim é até hoje. Para mim as horas das refeições deveriam ser sagradas, seguidas de um ritual: música ambiente, alimentos umammi’s, deixando-nos prazerosos e revitalizados após uma manhã de muito trabalho. Com o habito de alimentos leves e coloridos, compunha o meu prato com: saladas, legumes, peixe e um pouco de mel ou calda de algum pudim, levemente derramado sobre o alimento. Assim eu estava pronta para degustá-los. Surpreendeu-me a presença daquele homem alto, garboso, sotaque mineiro, de pouca conversa; olhando-me discretamente à distância. Era o novo gestor do departamento; não demorou muito para sermos apresentados e logo em seguida construirmos uma relação de confiança, que se fez devido ao nível de sintonia estabelecida entre ambos. Bastava um olhar, um gesto, e sabíamos ler uma situação, e mudá-la no momento certo. Nascia assim uma grande amizade, sem alardes.

Voltando do almoço, juntei-me ao grupo de colegas na pracinha que ficava nos jardins da empresa. Sentei, e passei a prestar atenção nos comentários do momento. As colegas de trabalho suspiravam quando ele passava e no justo momento estava vindo em nossa direção; parou em meio ao grupo olhando para mim com o semblante risonho. Fez-se um silêncio sepulcral. Dirigiu-me algumas perguntas, enquanto as respondia a medida do possível. Por ser muito alto e eu já estivesse ficando com o pescoço doendo, naturalmente convidei-o a sentar ao meu lado. A reação foi cômica; todas se entreolhavam espantadas, pois não era comum, diretores serem desprendidos a esse ponto; são sempre tão ponderados. Bem, não demorou muito, mas sentou. Foi o suficiente para que eu ficasse poderosa da tarde para noite e todos os dias em que passei naquela empresa. Todos se dirigiam a mim com excesso de cortesia, amigos falavam: que eu desconhecia o poder que tinha; que poderia chegar a uma gerência; e muitas fantasias que precisei usar de muito tato, para que não atrapalhassem o meu trabalho. De repente, projetos chegavam a minha mesa para que os avaliassem, e é claro, servisse de ponte para chegarem à diretoria. Então comecei a analisá-los, a dar sugestões aqui e ali, aproveitando-os de forma criativa, adaptando-os a nova realidade da empresa, com o aval dos criadores é claro. O momento era de união de esforços, deixava claro que o estrelato pertencia ao grupo. Achava o máximo, está buscando soluções o tempo todo. Aprendi, principalmente, a conduzir os bons ventos; já que passei a ter carta branca nos departamentos, seguia a minha intuição: interagi, aconselhei, integrei áreas difíceis e estimulei o tratamento humanizado; a volta dos treinamentos, incentivos com a participação nas vendas, aumento de salário para quem atingisse as metas. Tudo parecia infinito... Chegara o momento crucial; mudanças na diretoria. Descobrimos que nada é para sempre...

Senti-me honrada, ao saber que, ao despedir-se para atuar pela empresa em outro Estado; usara a frase que havia enviando no último relatório: “em nenhum momento da empresa os departamentos haviam se ajudado tanto” e “que o nosso material humano era muito competente.” Mais uma vez, um gestor de outro Estado, fora recebido com confiança e dedicação. Fechamos um ciclo, dever cumprido; ficou a saudade de um amigo querido.