Um amigo
Um Amigo, João Carlos
Eu vi o jovem João Carlos uma semana antes de da tempestade que cairia sobre sua família, foi no estacionamento, fui levar o pai dele para o trabalho, o dr. João. E quando fui saindo avistei João Carlos e fui cumprimentá-lo, ele estava com um colete lombar, quinze dias antes tinha feito uma delicada cirurgia na coluna, o Dr. João chegou a me comentar que se soubesse que a cirurgia era tão complexa ele não deixaria o filho ter passado por isso.
“Tudo bem João, já esta melhor”. Eu disse...
“Estou melhorando, logo estarei correndo”. Respondeu João Carlos...
No mesmo instante o doutor chamou João...
“Vamos logo filho, cada um que você vê vai conversar, desse jeito a gente não almoça”.
E a última vez que o vi foi esta.
Uma semana se passou e ligou-me um familiar desesperado dizendo que João havia sido assassinado.
Mais um caso de violência, ele foi vitima indefesa, convalescendo foi amarrado e amordaçado, que não satisfeito desferiu-lhe trinta e sete facadas...
Assim foi o fim de um complô que nasceu dois anos antes, nas mentes monstruosas de um mandante e seus cúmplices, bolaram um plano que com excesso de frieza executaram.
Tudo pela ganância, roubavam e desviavam bens da fazenda da família, fato então descoberto por João Carlos, jurado de morte, após o fato consumado soube-se que já tinham tentado assassiná-lo meses antes, contudo sem sucesso.
O assassino dois meses depois, também por ganância foi assassinado a mando do calculista administrador. Todos foram presos, mas o que mais dói depois da perda do colega, é saber que tudo havia sido articulo por seu administrador rural e seu motorista, este último para mim o mais cruel. Tinha sem custo nenhum, moradia, escola para os filhos e muito mais. E saber que após a morte de João a família tratou da segurança do filho de três anos de João, adquirindo um veiculo blindado para levar e trazer a criança da escola, porém sem que soubessem, dirigido pelo motorista que tinha passado os detalhes do dia-dia do patrão e dado o okei para os matadores.
Ao assassinar sumariamente o rapaz, eles mataram lentamente o pai, que depois daquele dia desligou quase todos seus sentimentos, e dois anos depois, um dia antes do dia dos pais disse que esse ano passaria com o filho roubado. Viveu esses dias somente para ver justiça, a qual não viu.
Sua irmã Márcia tinha olhos só para o trabalho depois do fato mudou sua vida, lembrou de si mesmo e tratou de sonhar e viver os seus sonhos, claro que nunca se conformara, mulher é mais forte nessas horas e ela venceu a dor.
Seu irmão Fernando, não sei não, mas acho que jamais conseguira viver em paz de novo, quando as vezes o vejo, percebe em seus olhos e até na forma de falar, que ali mora a dor que herdou do pai, a dor de não poder ter feito nada pelo irmão.
Fazem quatro anos de pesar, lembranças e saudades, e ainda hoje, cada uma dessas trinta e sete punhaladas se repetem em nossos corações e em nossas almas. Um sofrimento tão imenso e sem limites, que não nos permitem entender como semelhantes podem chegar a tão grande covardia e violência contra um indefeso. Será que merecem ser chamados de semelhantes?
O que resta é ter pena dos parentes desses facínoras, que hoje, cremos, estão condenados a sobreviver com tudo que fizeram de mal. Hoje em minha oração peço a Deus que guarde João, e que ajude seus parentes a superar essa dor.