CICLO DA ARVORE DA VIDA DESMATADA

Com a semente se faz a vida frágil

Em sua essência de ser

E o esperma faz vida forte

Em sua ganância de ter

Aos pouco a raiz contempla

A luz em cada amanhecer

E o feto com desafeto

Já sonha em enriquecer

E assim como todo ser

A planta abre seus cegos olhos ao sol

E a criança conserva o ódio

Em sua mente de sonhos

Líquidos em formol

Na planta surge ás folhas

Que são seus braços a suplicar

E o menino lhe arranca os braços

E pega às folhas para brincar

A planta resiste à dor pelo simples fato

De refletir mais cores nesta terra árida

Mas o moleque jogando bola destrói a grama

Que lhe faz sombra e ela fica pálida

Hoje arvorezinha já cria caule

Que pode até brincar com o vento de balançar

E o guri jogando bete já pensa em cortar a árvore

Que ele acredita lhe atrapalhar

Árvore forte venceu a morte

Por acreditar que a vida é bela

Olha o adolescente que estuprando a flor

Quer mostrar que têm amor pros olhos da cinderela

Que bonita a árvore em êxtase com a terra

Ejaculando folhas sobre a primavera

E o homem preocupado com o desenvolvimento

De uma nova era

Árvore pousada, mas só pra quem viaja livre pelo ar

E o senhor reflete... Que a madeira é boa pra desperdiçar

Esta árvore velha que a sua volta

Têm milhões de filhos certos de brotar

E o velho manda assassinar a árvore

Pra fazer a casa que ele quer morar

Só restou o toco do que já foi um tronco

Que a infância desse velho vinha pra se balançar

E o velho morre dentro desta árvore

Que agora é casa e faz sombra pra esse corpo velho já sem respirar

De repente o toco solta seu respiro

E nasce a ansiedade de ressuscitar

É a ecologia que é assassinada quase todo dia sem poder falar

E o tempo faz com que o homem volte novamente a terra

Pra reviver a árvore que ele foi matar

E a árvore então respira e volta novamente à vida pra poder brilhar

E o que restou do homem senão servir de adubo pra se desculpar

E a árvore pega o pó do homem e o faz de pólen

Pra matar a fome de um beija-flor

Que voa pra fugir dos homens que carregam rifles

E se abraçam à morte para exterminar

(Mauricio Ife)

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