A MOÇA QUE TINHA CORPO DE HOMEM GORDO
A moça que tinha corpo de homem gordo
Ele chega ao trabalho todo santo dia com o mesmo discurso: esse pessoal não está preparado para trabalhar aqui.
Ele reclama do gerente do seu turno, do gerente administrativo... “É por isso que esta empresa não cresce.” Murmura Narcísio. Ele nunca se cansa de reclamar.
Uma vez ele quase engoliu a língua.
Por uns meses, contrataram uma secretária moreninha, franzina, calada, para cobrir férias da Jussara. A pobre teve que pedir dois meses de férias para tentar se recompor. Ela dizia que Narcísio era o ponto de desequilíbrio daquela empresa, porém, nunca dissera isso em voz alta. Ela era discreta.
A quase invisível nova secretária, logo pescou o clima do ambiente.
Chorou duas semanas a fio tentando entender porque o mal amado do funcionário era daquele jeito, afinal, se você não está contente com o trabalho, pede para sair.
“Aposto 10 paus que o caso do rapaz é falto de sexo”. Comentou um colega de trabalho com o outro.
“Acho que não. O cara é pegador. Ele já me contou várias histórias”.
Contudo, contar vantagem é simples, todo mundo sabe. Acho que só o tonto do Narcísio que não. Comedor que é comedor come quieto.
Muito das vezes ele chegava, batia o ponto, e ia para a sala da administração fofocar. Aquela “moça” que tinha corpo de homem gordo adorava passar notícias com um tanto de exagero.
Num belo dia cansativo de trabalho, o mal humorado chega chiando ao trabalho. Além de atrasado, fez a maior tromba quando a secretária substituta ameaçou sair sem esperá-lo fazer a conferência do turno. Com medo do show, ela acabou esperando friamente o rapaz somar todo o caixa.
“Está faltando três centavos”. Disse Narcísio.
“Escreve no livro isso”. Retrucou finalmente sem paciência a moreninha.
“Aprendendo a se defender, novata?”
“Olha só Narcísio. Se você não está feliz fazendo o seu trabalho, pede para sair. Eu estou muito feliz fazendo o meu e não me importaria de ficar em seu lugar.”
Ela balançou seus cabelos cacheados e saiu sem olhar para trás.
Acho que naquele começo de noite foi a primeira vez que o rapaz insuportável parou para pensar sobre sua insignificância naquele local de trabalho.
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