Minimalista.

-Quantas vezes eu tenho que repetir que não tenho muito tempo?

A unica coisa que ainda a segurava naquele imundo quarto de hotel no centro da cidade eram os olhos marejados daquele pobre coitado que tentou dar condições de vida melhores possíveis. Bom, pelo menos é melhor do que morar debaixo de um viaduto.

-Olha, eu sei o que é bom para nós, se você continuar me segurando aqui, não vou conseguir trazer muito dinheiro.

-Então vá logo, -falava ele segurando os soluços- já está perambulando por aí há meses, quem garante que você já não pegou alguma doença ou se envolveu com um cara sem mesmo eu conhecer?

-Não sou desse tipo de mulher fácil, pai. Os tempos são difíceis, e faço isso por que não da pra se sustentar sendo só atendente de telemarketing. Você deveria se envergonhar também.

Inconformado, dá um murro na mesa de plástico improvisada no meio do quarto, espalhando molho de tomate barato pelas paredes.

-Me envergonhar? Por sua causa eu estou aqui, inútil, numa cadeira de rodas e tendo que assistir todas as noites você saindo de casa com esses trajes, tocando em pessoas sujas, se vendendo e dizendo que é honesto. Cadê os seus valores que te ensinei?

Ela o olha com desprezo, "Você sabe que não é disso que estou falando".

Enxugando o suor do rosto, ele guarda a seringa na gaveta do banheiro e vai ver o movimento na rua pela janela.