O DIA DA CAÇA.
Chagaspires
Como de costume despertei às quatro e quarenta da manhã. Ainda meio zonzo pela noite mau dormida, caminhei pelo quarto e me dirigi para a varanda do apartamento que fica no primeiro andar do edifício.
Abri a porta de vidro tendo cuidado para não causar barulho, pois hoje é sábado e estão todos dormindo.
A lufada de vento frio, batendo em minha pele ainda quente, me fez despertar por completo.
Ao debruçar-me sobre o balaustre da sacada percebi uma cena inusitada. Um gato se preparava para executar seu bote fatal.
A vítima distraída era um pequeno camundongo que roia os restos de comida deixados aqui e ali por algum morador incauto.
Os movimentos empreendidos pelo felino me fizeram recordar uma peça de balé clássico onde o bailarino executa sua dança com uma leveza sem igual.
A sutileza das patas nos movimentos executados pelo felino mostrava claramente a importância do momento.
Era o devorador querendo surpreender a vítima.
O desenrolar do episódio iria ser meticuloso, porém rápido e preciso.
No alto do muro o gato se preparava para completar o que todos chamam de cadeia alimentar. Alguém irá servir de comida para que outro alguém pudesse sobreviver.
Não me conformando com o final trágico do evento peguei uma pedra que fazia parte da decoração do jardim e atirei-a no descuidado ratinho e ele percebendo a situação mortal em que se encontrava, fugiu mais que depressa para a toca mais próxima.
O gato insatisfeito ainda ficou alguns minutos a espreita, mas logo se retirou em direção à rua deserta e ainda calada.
O acontecido me fez recordar do ditado popular que diz: “Um dia é da caça e o outro do caçador”.
Hoje o dia foi da caça.