UMA HISTÓRIA TRISTE

UMA HISTÓRIA TRISTE

Lourenze* nasceu sadio, gordinho, um amor de criança...Seus pais moravam numa casa grande, de madeira que ficava próxima a um braço do Rio Paraíba do Sul num arraial chamado São Sebastião do Paraíba..Seu pai possuía um moinho de cana de açúcar, deixado pelo seu pai, avô de Lourenze, Além disso, praticava a agricultura caseira e a prática pesqueira... Lolinho, como era chamado possuía seis irmãos e. apesar de grande, era uma família bem estruturada. O pai de Lolinho, Seu José era um exemplo de chefe de família, possuía uma calma que passava segurança para todos, além disso, era inteligente e habilidoso e, assim proporcionava uma vida simples, mas feliz para aquela família pobre... A mãe de Lolinho, dona Dorotéia, era cuidadosa, mas custava a dar conta, sempre preocupada com as crianças e o rio próximo...

Lolinho, aos quatro anos de idade já demonstrava uma grande atração por uma bola. De manhã, bem cedo, acordava feliz e, ao acabar o seu desjejum, pegava sua bola e corria para o campo de grama verdinha, que ficava em frente à sua casa e ali jogava bola sozinho ou acompanhado com outras crianças. Sua paixão pela bola, era tanta, que perdia horas ,treinando embaixadas e malabarismos diversos... Em casa, dizia que queria, quando crescesse, ser um jogador igual ao Garrincha, que naquela época era o seu ídolo e, também da maioria da população brasileira.

Seus pais e irmãos mais velhos se admiravam com tanta empolgação! Mas como poderiam incentivá-lo se moravam, tão longe da cidade, mas também não o desanimavam...

Os contatos que tinha com um jogo de futebol, era aos domingos, uma pelada organizada pelos adultos da comunidade; outras vezes, ouvia, no rádio do boteco, jogos com clubes nacionais ou jogos da Copa do Mundo.

Assim se passaram dois anos... Certa manhã, ao atravessar uma ponte de madeira que separava sua casa do campo onde treinava, deparou-se com um enorme jacaré! Assustado, correu desabaladamente, para chamar o pai mas... aí, que falta de sorte, tropessou num toco de árvore e fraturou o joelho... No pobre arraial de São Sebastião do Paraíba, que fica no Rio de Janeiro, divisa com Minas , não havia médicos e nem hospital.Sua lesão, tratada com um único farmacêutico do lugar transformou-se numa infecção grave, chamada de osteomielite.

Numa noite, toda a família foi acordada com a casa em chamas. Seu José, com sua calma conseguiu tirar todos de dentro da casa e com um dos filhos jogava pela escada, alguns móveis e objetos a fim de salvar alguma coisa, mas muito pouco conseguiu porque a casa era toda de madeira... A partir daí, a família veio para o Rio e aqui o Lolinho foi tratado num hospital especializado, , no qual passou grande parte da sua infância, internado, tratando da doença...

No hospital, os médicos e enfermeiros já o conheciam pela sua paixão pelo futebol; fazia as embaixadas com a perna não engessada e nunca se separava da bola.

Ficou livre da doença aí pelos catorze anos, mas nunca pode jogar bola, pois a doença lhe deixara uma perna mais curta...

Já adulto, Lolo, ou Lolinho transformou-se num alcólatra, talvez, por ter seu sonho nunca se concretizado, mas no seu estado normal era a melhor criatura que se podia imaginar; alcoolizado, era o contrário!

Lolo casou, teve dois filhos homens e quatro netos; A família sofria muito com as suas crises alcoólicas. Como pai de família ou como avô, nunca deixou de acompanhar o cenário futebolístico pelos jornais, rádio ou televisão...

Morreu de infarto, aos sessenta anos. Deitado em sua cama, com um radinho à cabeceira, ouvia um jogo de futebol, quando Jesus o chamou para si...

Obs: Devo dizer que Lourenze era meu irmão e o fato de virmos todos para o Rio, nossas vidas mudaram para melhor, pois aqui tivemos oportunidade de estudar e de nos formarmos... \\

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 17/07/2011
Código do texto: T3100220