Eterno Retorno.

Lágrimas negras escorriam pelo seu rosto. Lágrimas de tristeza, negras de rímel. Limpou-as com um pedaço de papel higiênico. Olhar-se no espelho era a pior sensação para ela. As cicatrizes, as olheiras, a falta de humanidade e de dignidade. A falta de oportunidades. ''Ei! Vamos logo com isso!'' ela ouviu vindo do quarto. Fechou os olhos, respirou fundo e caminhou lentamente até o quarto. Parou na porta e mandou o homem tirar a roupa. Ele obedeceu prontamente. Um velho, de mais de cinquenta anos, cabelos brancos, pança enorme. Um arrepio de repugnância percorreu o corpo da moça. Uma bela moça, diga-se de passagem. Cabelos escuros, longos e cacheados. Pele muito branca e olhos cor de mel. Corpo cheio de curvas, seios fartos e mãos delicadas. Porém um ser cheio de pecados, cheio de erros.

Aproximou-se do homem. Tirou os sapatos pela morte de seus pais. Tirou a saia pela falta de compreensão da família. Tirou a blusa por sua fuga da casa dos tios. Tirou a calcinha por todas as oportunidades de trabalho fracassadas. Tirou o sutiã pela fome que teve que passar. Puxou o velho para perto de si e tascou-lhe um beijo pelo envolvimento com as pessoas erradas. Cada gota de suor era um arrependimento por tudo o que já fizera. Cada lágrima, uma certeza de que teria sempre que fazer tudo de novo.

Carol Santucci
Enviado por Carol Santucci em 17/07/2011
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