O DIÁRIO DE UMA PROSTITUTA ADOLESCENTE

Da janela do caminhão Diane observava a paisagem nordestina da BR-101 serpenteando em direção ao sul do Brasil. E lá ia ela debruçada sobre seus pensamentos e seus medos, montada num caminhão de um desconhecido em direção a um destino também desconhecido.

Era apenas uma menina de onze anos quando começou a se prostituir para levar dinheiro pra casa. Não havia chances de trabalho e ela uma menina com apenas o quarto ano escolar, o que poderia fazer como trabalho? Começou esmolando, mas logo as más companhias da rua a levaram ao caminho da prostituição. E fazia dez, doze programas ganhando dez, quinze reais cada um. Era nada, mas no conjunto dava um bom dinheiro. E os pais faziam vista grossa ao que acontecia.

Em sua casa eram oito pessoas, atualmente, visto que dos quinze filhos, apenas seis sobreviveram. Os demais, ou morreram de inanição ou doentes. O pai tinha uma pequena horta, na qual era ajudado pela mãe e pelos irmãos menores. Ela aparecia vez ou outra, apenas para trazer um pouco de dinheiro. Mas as más companhias estão em todos os lugares. E neste meio são muitas. Daiane envolvera-se com o cafetão de uma colega de profissão e por ser uma mulher mais velha, não perdoava que a menina estivesse tentando tirar-lhe seu homem.

Raimunda já tinha mais de cinquenta anos, era perigosa, e agora dizia que mataria Daiane caso a encontrasse. Para evitar tal desfecho a garota resolvera ir embora. E o primeiro caminhoneiro com placa do sul foi motivos para que ela pensasse em ir pra lá. Pediu carona e logo foi atendida, explicando que pretendia ficar o mais longe daquela vida, daquela terra, daquele destino...

Tinha uns trocados guardados para os primeiros tempos. Não era muito, mas daria para passar umas noites em uma pensão, comer, comprar algo novo para vestir e para procurar um trabalho. Quem sabe até em alguma casa particular, onde pudesse também dormir. E foi assim que vendo as paisagens lindas do litoral catarinense e gaúcho, Daiane resolveu desembarcar em Terra de Areia. Uma pequena cidade às margens da BR-101, há pouco mais de 50km da fronteira com o estado de Santa Catarina. Era sua chance de uma vida nova. Numa terra até então desconhecida.

Estava começando a primavera, no fim de setembro de 2009. Não era tão quente quanto as temperaturas do nordeste, mas era uma temperatura fresca e agradável aquela que ela sentia na região.

Saiu da janela do caminhão para a vida. Uma vida nova, incerta, temerosa, mas estava viva e sabia que poderia recomeçar. Queria olhar o mundo pela janela, mas da janela de um lar, onde pudesse ser amada e respeitada.

Desembarcou. Procurou uma lanchonete para comer alguma coisa e também para começar a se situar na região. Pediu um pão com mortadela e um guaraná. Conversou com a dona do bar, uma senhora muito simpática que já lhe deu alguns nomes de pessoas a quem poderia procurar para trabalhar como doméstica, mas ela queria antes cuidar um pouco da aparência. Tirar um pouco da cor denunciante das prostitutas... Comprar umas roupas mais “decentes”... Procurou uma pensão. Daiane queria um banho e pelo menos 48 horas de sono tranquilo.

(continuará...)

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 13/07/2011
Reeditado em 13/07/2011
Código do texto: T3092667
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