A hora do "rush"
“Há uma saída logo ali!”, avisou-lhe a consciência, ansiosa. A realidade, porém, não dava passagem. Em meio à competição imóvel entre os carros, vendedores passavam oferecendo bobagens para que pudesse passar o tempo que o acaso tornava inútil.
Ele ligou então o rádio para saber das notícias, na esperança de ouvir uma alternativa ou, pelo menos, uma estimativa de quando sairia do caos. Porém, os ruídos do aparelho não falavam nada a respeito de sua condição, como um oráculo falho, nunca antes tão desejado e ao mesmo tempo tão odiado.
O motorista se irritava a cada mudança no botão, se desesperando ao esperar atentamente uma resposta imediata. Porém, o trânsito não fluía, o que já quase havia esquecido. Olhava para frente, para os lados e tentava perguntar aos gritos, em meio às buzinas, o que tinha acontecido e como aquele caos foi gerado.
Passado um longo tempo de imobilização, o trânsito começava a fluir numa sintonia confusa. Apreensivos, os motoristas pareciam mais atentos de uma forma geral. As buzinas se calavam, assim como o silêncio que se formava por uma expectativa em massa.
Já mais a frente, os carros começavam a ser liberados aos poucos. Naquele instante, se soube que havia sido um acidente entre dois carros o que causara toda aquela mobilização, então já “compreendida” por todos.
Uma espécie de mistura entre o alívio da própria locomoção e certa dose de pena alheia pelo acidente se aflorava, logo caindo no esquecimento apesar da gravidade da batida, na medida com que a cena se tornava cada vez mais longínqua.