A DITADURA DO MEDO, CÂNCER QUE CORRÓI
O medo me bate outra vez à porta. O som é de mau agouro. Daqueles que me faz encolher o corpo como se um exercício de homens maus, de caras escondidas, fosse novamente no meio da noite roubar me a paternidade.
Quem nunca teve medo, nunca vai entender do que falo. Falo de uma coisa que se instalou em mim de forma irracional. E fico a ver-me impotente como se eu ainda fosse aquela menina de quatro anos que viu seu pai ser afastado de sua família, sem explicação, sem razão, deixando mais que um vazio, deixando uma infinita e grande revolta por algo que não tem rosto que possa ser esbofeteado.
Os acontecimentos se repetem como um mântra que não se quer escutar nem entoar. Aquele que fica infinitamente na sua cabeça e você pensa que está em um pesadelo terrível e que não há quem te socorra, nem te acorde.
É uma caixa de registros que arquivada no porão da memória aparece, do nada, sentada na sala de visitas, lendo o seu livro predileto. Que levanta da cadeira de leitura e vem à tua cara, te conta a história com os detalhes que você jurou: nunca existiram. Agora, aliado com a dor, o medo faz o ser recuar, molhar o corpo de um suor frio, fedorento, vergonhoso, indigno de que seja sentido. Indigno que se instale e invada os recantos que tu já havias purificado, tentando lavar. Não é justo que esse mesmo medo idiota consiga sempre te permear as forças, esvair a tua última dignidade. Momento em que reconciliavas contigo uma outra vontade. A vontade de ir além, de não mais ser um corpo mutilado. De não ser mais que um corpo rejeitado, mais que uma patética estética que não se posse admirar nem se envaidecer. Só um trapo de gente então se faz.
Fragmentada a alma, ela não te dá conforto ao corpo, não te aconselha devidamente. Padecendo a sua mente, padecem a vida e toda uma existência; a da vontade de retomar uma luta que você tantas vezes já trilhou. Já conhece a cara dela de frente, mas nunca a venceu completamente. A luta de se aceitar como tem que ser. A luta de se aceitar meio, metade, inconcluso, feto deformado na sua essência.
O medo. Esse irracional sentimento que paralisa e te consome as vísceras de tal forma que você não passa de um amontoado de carne podre, impotente, incoerente com o que já fez, anulando tudo que ainda poderia fazer. Ele é assim, tal qual aqueles homens armados que pisam no jardim da gente, não se importando se o que estraçalhou foi um canteiro de singelas margaridas ou de rosas exuberantes. Ele estilhaça a sua vidraça só para que o barulho do vidro cortante, mesmo que não te corte, lembre que é melhor ficar embaixo da cama. O vidro em lâminas, no chão, ameaça a sua criança mais que o cerol que fazíamos para a linha da pipa, com ela cortavámos as mãos e ganhávamos as alturas sem medo se ser barrado. Sim o vidro estilhaçado te lembra que a sua carne é fraca e vulnerável, que a tua ascendência é ameaçada por teu próprio medo inocente.
O medo que se perpetuou em mim não foi um medo de uma imposição de ideologias tão somente, foi um medo que não tem reparo. É o medo de não ser, de nunca conseguir se fazer andante, capaz de derribar as sombras fantasmagóricas que inundam as paredes da casa, que ameaçadoras devoram o resto de força. Fazendo que, involuntariamente, a urina quente descer as pernas frias e te encharca, mais uma vez, da tua impotência diante dos fatos da vida.
Perder. Nada é tão fácil ser perdido. Nada é fácil de ser recuperado, nem a consciência, nem nada. É assim que o câncer que reside em você um dia aflora e vem te expor novamente ao exercito, aquele das margaridas e rosas, com quem você terá que se ver agora. Resistir. É o mínimo a fazer. Olhar de frente. Passar como se nos teus ombros tivessem uma patente maior que a deles - dos soldados que foram treinados para obedecer, atirar ao som de uma ordem. Uma patente maior que o medo. Uma patente que te autorize seguir sua marcha sem que tenhas que prestar continência e que te faça crer: todos não passam de meus subalternos.
Submetido o medo aos teus pés, tua alma se ilude que já venceu a batalha. Não, você ainda não venceu, ela está somente recomeçando.
O medo me bate outra vez à porta. O som é de mau agouro. Daqueles que me faz encolher o corpo como se um exercício de homens maus, de caras escondidas, fosse novamente no meio da noite roubar me a paternidade.
Quem nunca teve medo, nunca vai entender do que falo. Falo de uma coisa que se instalou em mim de forma irracional. E fico a ver-me impotente como se eu ainda fosse aquela menina de quatro anos que viu seu pai ser afastado de sua família, sem explicação, sem razão, deixando mais que um vazio, deixando uma infinita e grande revolta por algo que não tem rosto que possa ser esbofeteado.
Os acontecimentos se repetem como um mântra que não se quer escutar nem entoar. Aquele que fica infinitamente na sua cabeça e você pensa que está em um pesadelo terrível e que não há quem te socorra, nem te acorde.
É uma caixa de registros que arquivada no porão da memória aparece, do nada, sentada na sala de visitas, lendo o seu livro predileto. Que levanta da cadeira de leitura e vem à tua cara, te conta a história com os detalhes que você jurou: nunca existiram. Agora, aliado com a dor, o medo faz o ser recuar, molhar o corpo de um suor frio, fedorento, vergonhoso, indigno de que seja sentido. Indigno que se instale e invada os recantos que tu já havias purificado, tentando lavar. Não é justo que esse mesmo medo idiota consiga sempre te permear as forças, esvair a tua última dignidade. Momento em que reconciliavas contigo uma outra vontade. A vontade de ir além, de não mais ser um corpo mutilado. De não ser mais que um corpo rejeitado, mais que uma patética estética que não se posse admirar nem se envaidecer. Só um trapo de gente então se faz.
Fragmentada a alma, ela não te dá conforto ao corpo, não te aconselha devidamente. Padecendo a sua mente, padecem a vida e toda uma existência; a da vontade de retomar uma luta que você tantas vezes já trilhou. Já conhece a cara dela de frente, mas nunca a venceu completamente. A luta de se aceitar como tem que ser. A luta de se aceitar meio, metade, inconcluso, feto deformado na sua essência.
O medo. Esse irracional sentimento que paralisa e te consome as vísceras de tal forma que você não passa de um amontoado de carne podre, impotente, incoerente com o que já fez, anulando tudo que ainda poderia fazer. Ele é assim, tal qual aqueles homens armados que pisam no jardim da gente, não se importando se o que estraçalhou foi um canteiro de singelas margaridas ou de rosas exuberantes. Ele estilhaça a sua vidraça só para que o barulho do vidro cortante, mesmo que não te corte, lembre que é melhor ficar embaixo da cama. O vidro em lâminas, no chão, ameaça a sua criança mais que o cerol que fazíamos para a linha da pipa, com ela cortavámos as mãos e ganhávamos as alturas sem medo se ser barrado. Sim o vidro estilhaçado te lembra que a sua carne é fraca e vulnerável, que a tua ascendência é ameaçada por teu próprio medo inocente.
O medo que se perpetuou em mim não foi um medo de uma imposição de ideologias tão somente, foi um medo que não tem reparo. É o medo de não ser, de nunca conseguir se fazer andante, capaz de derribar as sombras fantasmagóricas que inundam as paredes da casa, que ameaçadoras devoram o resto de força. Fazendo que, involuntariamente, a urina quente descer as pernas frias e te encharca, mais uma vez, da tua impotência diante dos fatos da vida.
Perder. Nada é tão fácil ser perdido. Nada é fácil de ser recuperado, nem a consciência, nem nada. É assim que o câncer que reside em você um dia aflora e vem te expor novamente ao exercito, aquele das margaridas e rosas, com quem você terá que se ver agora. Resistir. É o mínimo a fazer. Olhar de frente. Passar como se nos teus ombros tivessem uma patente maior que a deles - dos soldados que foram treinados para obedecer, atirar ao som de uma ordem. Uma patente maior que o medo. Uma patente que te autorize seguir sua marcha sem que tenhas que prestar continência e que te faça crer: todos não passam de meus subalternos.
Submetido o medo aos teus pés, tua alma se ilude que já venceu a batalha. Não, você ainda não venceu, ela está somente recomeçando.