A Dança Delirante

Ela avançava na dança, achando que era tudo brincadeira, o bate-estaca estridente das músicas era apenas provocação, os gritos de desassossego que eram emitidos na pista, meros exageros, assim como os olhares à beira da explosão. Os corpos incontroláveis se tocando e se repelindo sem qualquer motivo claro, o suor que escorria em todos os exaltados. Estavam apenas sob o efeito da alegria, um distúrbio controlado pela força da espontaneidade, que ainda não fora capaz de contaminá-la.

Assim que a música parasse, todos voltariam ao normal. E acreditando numa rala desconfiança, ela prosseguia se fingindo insana, dançando, gritando, fechando os olhos para apenas sentir e não ter que ver nada daquele momento de representação compartilhado. Acreditava que aquele misto de agonia e entusiasmo que forjava, era pura tentativa de adequação. Mas não iria desperdiçar o mergulho num raro momento para contestar os loucos momentâneos – queria apenas se deixar levar pelo fingimento.

E quando decidida, foi sem medo, sem freio, sem rumo. Engoliu a seco as balas coloridas que lhe foram oferecidas por um dos desesperados. E de uma hora para outra o cenário se transformou, os som se justificou – Paula estava realmente adequada. Tornou-se mais uma escrava da alucinação. As luzes não paravam de piscar, ela não sabia o que fazer para se conter, ele não queria mais parar.

Pôs-se a gritar a cada mudança de ritmo, arregalou os olhos e evitou até mesmo piscar, não queria deixar de viver um segundo sequer naquela espécie de mundo novo em que acabara de aportar. Avistou ao seu lado uma negra de traços berrantes e beleza vulgar. Encantada, a convidou para perto de si com o olhar, e caiu nos braços da outra mulher. Por ali, a beira do orgasmo, da completa realização, da suprema felicidade, ficou até o efeito do estímulo passar, o som voltar a se tornar estridente, o corpo não ver motivos para se debater e os olhos quererem apenas se fechar, dormir, sonhar, e renascer no mundo óbvio de sons, movimentos e olhares banais.

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Assiz de Andrade
Enviado por Assiz de Andrade em 09/07/2011
Código do texto: T3084542
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