Realidade.
Sai do banho cabisbaixa, seca o corpo vagarosamente, ta entrando em uma nova dieta, a atual aparência não lhe agrada mais. Veste-se, o jeans já gasto e a regata branca, sempre simples. Os pés descalços caminham até a cozinha, o café logo enche a cozinha com seu cheiro bom, ela sente o dia começando.
Abre a porta e pega a edição diária do jornal do estado, folheia distraidamente lendo uma notícia aqui e outra ali, a violência a assusta, ela vive se perguntando quando foi que o ser humano esqueceu o que realmente é ser um humano. Ela faz o que pode, separa o lixo, raramente come fora de casa, evitando assim o uso das embalagens de plástico das lanchonetes, fuma e bebe muito raramente, faz academia, tenta levar uma vida saudável, sempre ajuda ONGs com doações e contribuições, doa sangue uma vez por mês, fez carteirinha de doadora de órgãos, doa livros velhos para a biblioteca da cidade e todas as noites tem sua seção de ciberativismo assinando abaixo assinados em instituições como o Greenpeace, WWF e algumas sociedades de proteção animal. Faz o máximo que pode para ter a consciência limpa e poder dizer que ainda se mantém humana, mesmo tendo vergonha alheia do resto da população que se encontra alienada assistindo a rede "plim-plim" e deixando de pensar por conta própria para apenas pensar como a mídia quer. Uma lástima.
Ela mora sozinha, visita a mãe nos finais de semana para matar a saudade e conversar, sempre manteve esse laço de amizade forte com sua progenitora, mãe é uma só. Está solteira, muita gente diz que ela é difícil, que mudou, está diferente e mais auto-suficiente e que isso dificulta as coisas, mas ela pensa diferente. Mudou sim, amadureceu. Antes acreditava em amores platônicos, em juras de amor eterno, contos de fadas e no "felizes para sempre". Agora ela é realista, tem os pés no chão e deixou de ser aquela menina fácil de antigamente. Ela sempre se pergunta se foi a idade que fez isso ou se ela sempre foi assim e não soube dizer. O amor é uma montanha russa misturada com um trem fantasma, altos e baixos, monstros e bruxas, fantasmas que somem e reaparecem para atormentar no futuro, curvas demoradas adiando o fim das coisas, subidas intermináveis aonde o nervosismo e a ansiedade tomam conta e os nervos entram em colapso, descidas libertadoras com direito a frio na barriga e tudo, o amor é assim. No caso dela, no meio desses trilhos alguns parafusos soltaram e ela quase caiu do trem, por tempos tudo parou e o parque de diversões continuou sem ela, por vezes ela esperou que alguém viesse tirar ela daí, algumas pessoas apareceram, mas logo em seguida viraram assombrações e sumiram, agora ela simplesmente aprendeu a arrumar o seu caminho, sabe fazer a manutenção sozinha, mas é sempre bom ter alguém sentado ao lado, disso ela nunca duvidou.