O HOMEM DO RIO

A distância entre uma margem e outra é de aproximadamente duzentos metros. Do lado de lá há uma fazenda e do lado de cá, uma mata. A fazenda é de um homem muito rico que mora na capital, vindo para a fazenda nos feriados e em alguns finais de semana. Da margem de cá, o homem a observa com um binóculo. O dia inteiro fica ali pescando e observando a fazenda. Os peixes que pega são poucos, só para o sustento.

Do lado lá o homem nota que é muito movimentado. Muitos amigos do caseiro da fazenda e outras pessoas que alugam o local para pescar aparecem sempre por lá. Do lado de cá não há ninguém. Só ele mesmo, ali, sozinho, em suas reflexões.

A mata do lado de cá é uma reserva da mata atlântica de milhares de quilômetros quadrados, totalmente inabitada. O homem já está ali há quase um ano. Solitário. Alimenta-se de peixes, frutas, animais e raízes. Sente-se quase voltando a pré-história. Só uma coisa ainda não aconteceu para que ele viva totalmente como um homo sapiens. Ele ainda espera o grande dia, o gran finale.

Já até esquadrinhou em pedras, em folhas de bananas e no solo o seu grande plano. O grande roubo, onde espera ficar milionário de vez. Irá roubar a fazenda. Seqüestrar o homem, o dono, seus amigos. Já fizera isso quando morava na capital. Fora condenado a várias décadas de prisão, mas por sorte, em uma ocasião, conseguiu fugir da cadeia. Agora está ali, na mata, foragido. Enquanto isso, é procurado pela polícia em todo o estado.

Mas espera, calmamente, displicentemente, o momento fatal. O momento em que saberão que ele ainda existe. O momento em que saberão que ele é o cara. O momento em que saberão que ele é um cara temido. A hora ainda vai chegar. A única coisa que está impedindo são os duzentos metros de água.

Antonio Fabiano Pereira
Enviado por Antonio Fabiano Pereira em 06/07/2011
Reeditado em 20/07/2011
Código do texto: T3079180