Pai Compreensivo
Seu Justino andava desconfiado das roupas que Belinha vinha usando, telefonemas misteriosos e presentes que chegavam sem data comemorativa alguma, o que ganhava por mês vendendo água de coco no centro da cidade era um terço do valor do celular que a filha desfilava conversando por horas e horas. O aparelho era tão sofisticado que até impressora possuía. A mãe que era agraciada com manicures e cabeleireiras, quantas vezes fosse da vontade, nada dizia e pedia o marido para largar de perseguição com a filha. Mas o velho que dissera para todos e reafirmava que a linda morena de pouco mais de 18 anos era virgem e se casaria de branco na Matriz, começava a ser galhofado, pois a misteriosa fonte de renda de Belinha era ciência de alguns mais próximos. Assim não dava, certo dia sem ter mais o que fazer, o vendedor de águas de coco resolveu pedir ajuda a um amigo frequentador das noites e tocador de violão nos botecos das imediações da praça de esportes. O moço aceitou a incumbência de Sherlock Holmes e começou a investigar, primeiro percorreu todas as bancas de jogos de bicho, depois passou pelas casas de bingos, entrou em rinhas de galos, até numa casa que cultua satanás em troca de dez por cento entrou mas nada de ver a moça. Estava quase desistindo de prestar o favor ao amigo quando lhe veio a idéia de fazer o teste da música considerado infalível, pois como disse alguém a música mostra a personalidade do ser, então pensou; se for envolvida com drogas vai pedir um samba assim, se for com armas vai pedir algo que seja apologia ao tráfico no Rio, mas se pedir a ... não quis nem pensar se fosse aquela canção que lhe impôs censura imediata, a coisa estaria na linha de pensar do velho. Sem querer alardear a idéia, chega após o almoço e chama a moça em particular lhe pedindo permissão para mostrar uma música em sua homenagem, mas antes ela poderia escolher outra qualquer somente para tirar o pigarro da cordas vocais. Belinha olhou para o teto baixou a cabeça e suspirou, o coração do bandoleiro violonista lhe chutou o peito quando ela pediu A Boite Azul... canção que ele toca tanto a pedidos e, quando começa a dedilhar o instrumento vai sozinho. - Não é possível! Exclamou em pensamentos que desconsertou-lhe a aparência, esta música, esta musica... mas podia ser uma infeliz coincidência. Tocou e preparou a tocaia para seguir a filha do velho Justino, tudo armado para mais tarde. Assim que acabou o Programa do Ratinho intelectualmente aprovado pelo povo Brasileiro. Um moto-táxi encostou e partiu sem fazer perguntas, dando a entender que já sabia onde ir, andou em círculos na intenção de desarticular qualquer perseguição e seguiu em frente, parou em uma casa nas proximidades da Rodoviária e voltou dez minutos depois com uma produção de miss “vou dar” maquiagem e mini saia com bolsa dourada sobre as costas, desta vez entrou em um táxi amarelo como é redundante na televisão e seguiu novamente, sendo acompanhado imparcialmente pelo amigo do pai, depois de 30 minutos de voltas o carro para e a moça desce para entrar numa casa sem a menor suspeita ao lado de um hospital de Montes Claros. Ali era a montanha encantada de onde Belinha tirava seus tesouros, onde seus sonhos de consumo eram realizados em troca de todo o seu fogo de Norte Mineiro . Com um disfarce de travesti o músico entrou no bordel e ainda espiou da fechadura flagrando Belinha sob os afagos de um político da cidade que todos pensam que é gay. O pai quando soube da notícia precisou ser levado ao Pronto Socorro e amparado por um anti-hipertensivo para conter a pressão arterial de 30x22. Porém na hora da justificativa a filha provou que era só composta de sexo e rock anda roll. Segundo Belinha o sexo pago já fora considerado sagrado, pois em relatos do Grego Herótodo de Hallicarnassus, no seculo 3 a.C. na Babilônia, nenhuma mulher se casava antes de passar pelo templo de Istar,deusa do amor e da fertilidade. Lá, ficava a espera do primeiro homem que lhe jogasse uma moeda. Os mais generosos jogavam três. Mas o que importa é que a mulher não podia recusar o parceiro, para os Babilônicos, a deusa ficaria muito ofendida caso a oferta não fosse aceita, e o casamento não tinha o menor futuro. Mas é claro que a esperta Belinha substitui a deusa por Deus e o pai de muita fé, ajoelhou-se e pediu perdão pela atitude.