Monstro de Quatro Olhos
Lentes de contato.
Pensei nelas e vieram à mente recordações de outro tempo quando usava óculos.
Vesti-os à primeira vez galgando larga timidez. Um dos meus maiores medos na vida era o de ser rejeitado. Os óculos, a meu ver, decretariam que pertencia ao campo dos rejeitados, dos inválidos, dos incapazes e dos excluídos.
O uniforme do colégio era amarelo de doer os olhos. Tudo amarelo. Lembro da minha mãe se esforçando para tingir as meias e os tênis Conga. Às vezes dava errado e o calçado ficava parcialmente manchado, como uma vaca malhada. Não queria usar aquele tênis, mas usei. Os meninos satirizavam, a coordenadora da escola olhava, pensava, meditava se aquilo era ou não amarelo e deixava passar. Com o tempo acostumaram ao meu Conga manchado.
Mas será que se acostumariam com os óculos?
Fiquei embaraçado.
Minha mãe era general sem banda:
Desci do carro da minha mãe com aquela armação grossa e ridícula na cara. Senti o tapa das primeiras risadas me atropelando. Pensei em tirar.
Não havia lentes de contato, não havia telefone, celular, computador, somente tínhamos aquelas lentes grossas e pesadas que me sulcaram os sonhos e trouxeram pesadelos que até hoje me perseguem ao ver o mundo me dando as costas e rindo, rindo dos meus Quatro Olhos...
Lentes de contato.
Pensei nelas e vieram à mente recordações de outro tempo quando usava óculos.
Vesti-os à primeira vez galgando larga timidez. Um dos meus maiores medos na vida era o de ser rejeitado. Os óculos, a meu ver, decretariam que pertencia ao campo dos rejeitados, dos inválidos, dos incapazes e dos excluídos.
O uniforme do colégio era amarelo de doer os olhos. Tudo amarelo. Lembro da minha mãe se esforçando para tingir as meias e os tênis Conga. Às vezes dava errado e o calçado ficava parcialmente manchado, como uma vaca malhada. Não queria usar aquele tênis, mas usei. Os meninos satirizavam, a coordenadora da escola olhava, pensava, meditava se aquilo era ou não amarelo e deixava passar. Com o tempo acostumaram ao meu Conga manchado.
Mas será que se acostumariam com os óculos?
Fiquei embaraçado.
Minha mãe era general sem banda:
- Você tem que usar o tempo todo na cara para ficar bom.
Desci do carro da minha mãe com aquela armação grossa e ridícula na cara. Senti o tapa das primeiras risadas me atropelando. Pensei em tirar.
- Não tira! - Ela gritou do carro. Teria lido meu pensamento?
- Tadinho... de óculos. Não se preocupe, ficou lindo! - E me deu um beijo que guardei para sempre embora soubesse que era mentira.
- Não tira. Sua mãe mandou vigiar.
- Você foi curado!
Não havia lentes de contato, não havia telefone, celular, computador, somente tínhamos aquelas lentes grossas e pesadas que me sulcaram os sonhos e trouxeram pesadelos que até hoje me perseguem ao ver o mundo me dando as costas e rindo, rindo dos meus Quatro Olhos...