Natação
Pulso que pulsa. Já são quase 18h. A calada da noite chegou. Num segundo chego e entro já começo a nadar. Já fiz todo o ritual: aquecimento, touca óculos. Tenho pressa, não ando devagar. Ainda mais hoje, com mil lugares pra ir e um só corpo para agir. Preciso correr, ou nesse caso nadar. Começo, assim como queria: rapidamente. Já na primeira sequência sinto isso: 5 tiros de 100m, com direito a 1minuto de descanso.
Nesse tempo, a fadiga vai e vem. Isso me faz sentir bem. Principalmente quando me sinto rodeado pela ondas que crio ao nadar. Remo a cada braçada. Com a pernada, acelero. E assim, num súbito segundo, termino a primeira etapa. Mas, estava apenas começando. Pauso, respiro 15 vezes, recupero o fôlego. Volto a nadar.
Desta vez, saem os tiros entram as pernadas. As 4 gigantes: craw, peito, costas, golfinho. Começo pela mais rápida, o golfinho. Suas subidas e descidas me ditam o ritmo, dando vibração e passando a sensação de ser uma enguia elétrica. Impulsionado como estava troco de estilo mas nem sinto esta troca. O ritmo se mantém, como os trilhos de um trem. Consigo até sentir o barulho das pernas ao encontrar com a água. Não acho palavra pra descrever este barulho. Entretanto, é algo completamente compreensível para quem nada. Neste momento, noto as pessoas ao meu redor. Tem crianças, adultas, idosos. Cada um na sua raia, no seu espaço, ditando um ritmo mais leve do que o meu.
Me sinto embalado por este ritmo veloz, essa necessidade que urge em me dizer: “não pare”. Nesse entremeio, quero sempre ir até o fundo da piscina e depois voltar. Consigo isso, indo no estilo peito, expandindo os pulmões e alongando o corpo. Até aquele que considero ser minha maior fraqueza em nadar com maior proeza, o nado mais rico da piscina, o golfinho, some. O cansaço não me derruba. Meu golfinho voa. Voa e submerge. Indo assim até o fim.
Enfim, chego ao fim. Nas últimas voltas, nos últimos suspiros. Braçada após braçada. Pernada após pernada. Termino. Então, bate o cansaço junto com a sensação de “dever cumprido”. Me distancio da raia e vou-me dirigindo a saída da piscina. Não uso a escada. Prefiro subir com um impulso nas bordas. Tento uma vez, e caio. Teimosamente vou outra vez e consigo. Dou de encontro com o chuveiro. Abro e deixo a ducha cair sem fazer mais tanto esforço, e somente suspirar aliviado. São 19h. Termino de nadar, e agora me encaminho a retomar o caminho da estrada, para cair em minha casa.
Andarilho das Sombras