O Azar que Virou Sorte?
O sol escaldante e o calor das duas da tarde pareciam insuportáveis, pois o cimento e o asfalto da avenida estavam em fogo. Minha testa e meus óculos estavam banhados em suor. Eu tentava me refrescar com a gola da minha camisa, mas era inútil.
Na esquina próxima, para minha alegria, vejo meu microônibus aparecer.
- Finalmente. – falei.
O ônibus aproximou- se e eu sinalizei. Mais duas ou três pessoas se aproximam, pois também iriam pegar o mesmo ônibus. Em um momento raríssimo de cavalheirismo meu, deixei uma moça subir na minha frente, era o ultimo da fila. Pude vê-la sacando sua carteira de estudante e o dinheiro, para logo depois passar pela catraca.
Com minhas duas moedas de cinqüenta centavos e a carteira de estudante nas mãos, entreguei para o motorista/cobrador do ônibus. Quando notei que algo não estava correto.
- Você vai ter que esperar o próximo, por que a catraca travou. – disse o motorista.
- Rapaz, mas eu esperei até agora, nesse sol, nesse calor. – tentei argumentar.
- Não! – falou – Tem que esperar o outro.
- Eu pulo a catraca.
- Não.
- Não posso ir aqui na frente?
- Não, só no próximo.
Fiquei aborrecido.
- Porra! – berrei – Eu não vou em outro, tenho que ir nesse. Você sabe o quanto demora pra vir o próximo ônibus?
O Motorista puxou o freio de mão e desligou o ônibus.
Dando-me por vencido, virei às costas e sai.
- Tá bom, então! – gritei.
Desci do ônibus, olhei para o número na lateral do veiculo “153342”.
Por sorte, peguei outro transporte que vinha em seguida. Não era a mesma linha, pois essa dava uma volta maior: ia para o terminal e teria que pegar outro ônibus, felizmente, de graça.
Um pouco mais a frente na avenida, pude ver o microônibus com o pisca-pisca ligado, demonstrando que estava com problemas.
- Merda. – falei baixinho, pois ainda estava chateado.
Mas, como nem todos os males são maus. Acabei descobrindo que chego mais rápido em casa indo para o terminal, pois perco muito tempo esperando o outro ônibus.
Cheguei à minha casa, joguei a mochila de lado e fui tomar um banho, depois fui atrás de comer alguma coisa.
De noite, quando liguei a televisão. Estava nos comerciais. Pouco depois, o telejornal começou.
A âncora do noticiário falou as manchetes. Uma quase me fez vomitar.
Para meu terror e asco, as imagens do ônibus capotado com o número “153342” e de algumas manchas de sangue em parte da lataria