Sedução é dom natural.

Colhi flores no jardim essa manhã e botei-as no vaso no centro da mesa ali da sala, gosta? Sentei e fiquei admirando a grande rosa vermelha que abria levemente suas pétalas num jogo de sedução natural e leve, como se seduzir fosse tudo que ela soubesse fazer, e o fazia bem por sinal, fiquei presa àquela visão a manhã toda e quando fui ver já era tarde, levantei-me da cadeira e fui ler perto da janela. Lembrei-me de uma aula da faculdade de Filosofia onde o professor ficou indagando sobre uma cadeira, pois que ela só existia porque eu como ser humano, tinha concebido a idéia da cadeira, sem a idéia ela não existe, o que é a cadeira? Quatro pernas, um pedaço de madeira plano aonde se pode repousar, com um encosto encaixando perfeitamente em sua geometria, é isso uma cadeira? E para um cão, o que é a cadeira? Qual a idéia que ele, como animal, teria de uma cadeira? Para ele, o cão, a cadeira não é cadeira, ha de ter outro nome e até outra cor, com uma finalidade diferente, logo, a cadeira não existe pra ele, ela é outra coisa. Será que o amor não é assim também? Para uma pessoa ele existe, está ali esperando para ser vivido, mas a outra, alvo desse amor, não o vê ali, mesmo forçando a vista em plena luz do dia tudo o que vê são os finos traços de amizade e o leve perfume do carinho, mas o amor não se encontra ali. Entende o jogo de sedução da flor? Será que enquanto me seduzia ela agia naturalmente, sem a intenção de fazê-lo? Será que aonde eu via e definia essa tal sedução a flor apenas seguia seu curso natural de vida sem sequer se preocupar em seduzir-me? Apenas abria suas pétalas na esperança de um beija-flor qualquer vir lhe cumprimentar e beijar-lhe as pétalas levemente abertas num ato levemente erótico, inserindo em sua abertura seu longo bico, provando seu gosto, seu pólen, podendo assim espalhá-lo pelo ar e pelo campo, fertilizando assim o solo já pronto e fazendo com que, futuramente, novas flores como ela germinassem ali. O ciclo de reprodução das flores me pegou de surpresa e eu, humana, fui seduzida no ato "erótico" da sedução natural. O que a flor pensou de mim? Pois pensam mesmo as flores? Gosto de pensar que sim, tudo no mundo pensa de certa forma, não sou flor pra saber. Não existem aquelas histórias de que, flores que recebem energia das pessoas crescem mais belamente? Plantas aonde seus "donos" dispõem de algumas horas no dia para conversar com elas, retirar sujeiras, regá-las e lhes dar atenção. Estas crescem de um modo muito belo, são as primeiras que compro na floricultura toda semana, e volto ao jogo de sedução que lhe falei. Acho que a flor ficou surpresa ao ver que não apenas o beija-flor fica hipnotizado com sua beleza, mas que até os humanos, os mais sensíveis, ficam estagnados admirando-a, ela deve ter gostado, florzinha metida... Abriu-se ainda mais agora à noite, exibindo seu centro tão cobiçado, chamei-a de oferecida e fui dormir. Hoje pela manhã encontrei-a morta, abriu-se por demais e suas pétalas caíram todas, pobrezinha. Creio que as flores podem ser ambiciosas por demais... Tal como os humanos.

Lorrayne T
Enviado por Lorrayne T em 25/06/2011
Código do texto: T3057141
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.