Eles não param de falar naquilo....

Ele estava muito, muito, muito ansioso. Como podeTÃO jovem? Mas, mesmo assim estava ansioso, não parava de pensar naquilo. Da última vez não havia sido tão difícil, acho que é porque da outra vez ele havia falado toda a verdade e agora, bem, não foi uma mentira - sua consciência dizia - mas também não havia sido completamente honesto. O quê fazer, como fazer, ele já havia visto milhares de dicas sobre isso, já havia conversado com amigos e estes lhe deram dicas, já havia assistido vídeo-aulas sobre o assunto e muitas e muitas palestras cansativas já haviam sido suportadas, mas mesmo assim, parece que ele simplesmente não sabia de nada. Mas, vou contar desde o começo como tudo aconteceu.

Um belo dia ele estava na sua rotina normal. Infelizmente havia se acostumado a pequenas mentiras e estas pareciam zombar dele quando ele dizia para si mesmo:

-Está vai ser a última! Já chega...

Mas no mesmo instante alguém o interrompia e perguntava algo, não era nada importante, mas ele não queria ser motivo de riso e chacota, então ele distorcia um pouco os fatos e seguia sua vida normalmente, nunca se envolveu em grandes problemas por causa deste costume, então não via nada de errado.

“Por quê as pessoas tem que perguntar tanto? Por quê tanta pressão? Eu não posso fazer o que eu quiser da minha vida sem dar satisfação a ninguém? Que droga!!!”

Pensava Alberto.

Todos as pessoas que sabiam de detalhes da sua vida lhe pressionavam para este assunto:

-Sério Betôô?!!! Você nunca... – dizia um.

-Não acredito Betão, você?! Que merda cara. – dizia outro balançando a cabeça.

Todos reclamavam, se assustavam, mas ninguém se dispunha a ajudar. Então, Alberto decidiu realmente sair dessa. Foi atrás dos seus objetivos, aliás do objetivo que os outros impuseram a ele, mas ele acabou se adequando aquilo e acabaram virando seus objetivos também. O mundo é assim, fazer o quê!

Alberto, ou Betão como chamava aquele segundo amigo, tentou todas as alternativas possíveis e imagináveis, sem sair do computador, óbvio!

-Estamos no século XXI, é por isso que inventaram isto, pra facilitar as coisas. – pensava ele, desaprovando um pouco sua preguiça habitual, mas afogando-a num mar de desinteresse, uma atitude também habitual.

E lá foi ele. Se cadastrou num site, falou com algumas pessoas interessantes, mandou vários e vários e-mails para outras, mas como não conseguiu nenhum resultado concreto naquela sua tentativa, que havia lhe acendido uma chama de interesse pela vida que se apagou em 72 horas quando não recebeu nenhuma resposta, se cansou e foi dormir, como sempre.

Alberto tinha 19 anos e nunca, pois é... é isso mesmo... ele nunca. Quer dizer teve uma vez, mas ele não contava com ela visto que foi tão rápido e não era o estilo dele, então ele nem tentou de novo, mas agora era diferente, Alberto já era um homem dizia seu pai ele tinha que...

Ah! Quanta pressão, mas num certo sábado quando o grande Alberto – como dizia um outro amigo pressionador, e bajulador, que tentava lhe fazer GRANDE para que Alberto percebesse a sua própria pequenez – recebia uns parentes em casa e assistia o último episódio do seu seriado preferido, ele recebeu um telefonema, seu primo, que também o pressionava, ouviu-o dizendo:

-Humrum..hum..ok...perfeito. Segunda-feira está ótimo para mim...ok...não se preocupe..ótimo..qual o endereço? – pegou um papel e caneta para anotar, o primo tentou ver, mas não conseguiu – ok, então Cecília até segunda. Tchau, tchau.

O primo sabia do que se tratava, mas não fez muito alarde.

-Vamos esperar até segunda, pra ver no que isso vai dar.

Betinho – como lhe chamava sua mãe, que também o pressionava (pois é, até a mãe.) – ficou feliz, por dentro claro, não esboçou nenhuma reação que demonstrasse como ele estava contente, ele já havia recebido ligações outras vezes de mulheres com vozes bonitas como esta e até de homens, mas, quando chegava na hora H...ahhhh... :( Alberto não conseguia ir até o final.

-Talvez esta vez dê certo. Dizia Jorge Alberto – como lhe chamara a moça do telefone - meio incrédulo.

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-Today is the day! Disse Alberto na segunda feira.

Ele poderia ter dito também “今天是天” ou “आज का दिन है” ou então “Сегодня день” ou em mais outros 4 idiomas que falava. Mas ele escolheu inglês, afinal inglês é inglês, não é? E ele tinha que ir treinando. Cecília queria vê-lo falando inglês, principalmente, mas disse ela:

-É interessante que um rapaz de 19 anos fale fluentemente Inglês, Chinês, Hindi, Russo, Alemão, Espanhol, Italiano, Francês. Puxa!

Seus amigos brincavam dizendo que ele era muito bom com a língua, mas... é Alberto sabia que era bom, mas teria que comprovar isso Hoje, pois “Today is the day.”

Beto escolheu sua melhor roupa, quer dizer, não a melhor para não passar a impressão de exibido e nem a pior para não passar a impressão de desleixado. Bem, acho que ele não teve muito que escolher, Beto estava passando por uma situação não muito boa na sua vida e, apesar de não ser pobre, não tinha muitas roupas boas ou de marca para sair, como seu amigo que lhe chamava de Betonho – ridículo, mas fazer o que, né? Diziam que este seu amigo tinha 12 pares de tênis, 75 camisas e 75 shorts com mais 27 calças jeans e muitas outras coisas que ele não conseguiria usar nunca em sua vida, mas ele as tinha, é bom ter, é bom se sentir admirado e ver que os outros o reverenciam por você ter gastado R$ 300,00 numa calça jeans igual a uma que Alberto viu – e comprou – na Riachuelo por cinquenta e poucos reais. Enfim, Alberto se arrumou, ele sabia que se vendesse todo o seu aparato não daria para comprar nenhum uma calça da Diesel que o seu amigo – aquele que o chama de Betonho (ridículo) – tinha, mas ele se arrumou e estava até bonitinho e confiante, parecia que desta vez as coisas iam andar.

Beto pegou o carro da sua mãe emprestado e foi de encontro ao seu destino ele sabia que se fosse aprovado, desta vez ele iria até o final “no matter what happens”. E lá foi ele rumo a sabe-se lá o quê, mas era algo que ele queria, ou pensava que queria, mas era algo.

Chegando lá Cecília estava sorridente, reluzente e cheirosa. Apontando uma cadeira que estava de frente a si ela disse:

-Olá Jorge Alberto. Prefere que lhe chame de Jorge ou de Alberto? Beto, ok. Sente-se fique à vontade. Me fale sobre você...humrum...e o que exatamente você procura Beto? Exatamente... perfeito. É isto que eu procuro também. E como você gostaria que fosse?...humrum..Sei...Assim é maravilhoso para mim, então façamos o seguinte você poderia começar agora mesmo?...Sim, agora mesmo...algum problema?...Não se preocupe, estas pessoas estão aqui para lhe ajudar. Não é mesmo Eron? – disse a infame Cecília ao gerente do setor de produção gráfica, o setor que Alberto ficaria.

Vamos ver no que que dá.

Gaga
Enviado por Gaga em 24/06/2011
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