O BLAZER AZUL
Embora o seu armário estive abarrotado, ela viveu o drama dos últimos tempos, ao se olhar no espelho, traje algum lhe agradava.
Lembrou das palavras brincalhonas dos familiares:
_ Nossa! Você tem tantas roupas, sapatos, que poderia montar uma loja! –
No seu cérebro ecoou também o conselho da avó;
_ Menina para que tudo isso? Ficar acumulando coisas sua vida fica parada, dê um jeito de desfazer. Doa se desapegue assim a tristeza vai embora, o universo lhe trará coisas com alegrias novas! –
No fundo do guarda roupa estava o belíssimo blazer azul.
Com mãos tremulas o retirou, evitava tocá-lo, tinha verdadeira veneração por ele. Afinal era o símbolo de dias felizes.
Lembranças da alegria em comprá-lo para o primeiro encontro com o homem amado, vieram à sua mente.
Emocionou-se ao lembrar-se dos primeiros olhares, do primeiro beijo, da primeira noite de amor.
Depois se entristeceu, ficou deprimida com as lembranças das brigas, decepções, a separação.
Tentou vesti-lo, percebeu que era impossível. Não lhe cabia mais, não era mais a elegante perfumada como ele carinhosamente a tratava.
Mas naquela noite fria estava decidida a usá-lo.
O colocou sobre os ombros, não se importou se não ficou bem vestida.
Resolveu ir ate ao supermercado a pé.
Enquanto caminhava meditava.
“Será que sua avó tinha razão? Ao dizer que acumular coisas é uma forma de fugir das frustrações intimas?”
Realmente, ultimamente nada mais a agradava, se mantinha sempre descontente com tudo à sua volta, lentamente estava entrando em depressão.
Será que se desfazer das coisas que não lhe serviam mais, lhe traria alegria?
Tremeu ao imaginar seus sapatos, suas peças tão queridas de roupas sendo usadas por pessoas estranhas.
Mas para quê ficar guardando tudo aquilo que não lhe servia mais?
Arrepiou-se com a imagem de ver o homem amado nos braços de outra mulher.
Então refletiu; “Tenho tanto amor assim por ele? Ou é apenas o orgulho ferido?”
Nos últimos tempos já não se suportavam mais, a separação se tornou inevitável. Vê-lo com outra foi a gota d água.
Compreendeu que foram atraídos pela aparência.
Depois veio o desencanto a decepção.
O amor se alimenta de respeito, admiração um pelo outro.
Isto não existia mais entre eles
Então por que ficar guardando magoas, ressentimentos, desejos de vingança?
Por que transformar a vida em tristeza, insatisfação, por uma bancarrota amorosa?
_ Sacode a poeira dê a volta por cima, esquece este cafajeste se abra para outro amor, deixe a fila andar... –
Aconselhavam as amigas mais intimas.
A mãe também aconselhava: _ Filha, na vida todos temos decepções, lute contra esta tristeza. –
O ar frio da noite a despertou.
Finalmente compreendeu a profundidade do ensinamento da avó.
Desfarzer-se ia de tudo o que não lhe servia mais
Decidiu fazer uma limpeza no guarda roupas, retirar tudo o que não lhe fosse útil ou não gostasse de usar, doaria para as instituições filantrópicas.
Desta vez sentiu alegria ao imaginar pessoas carentes ficarem felizes ao receber sua doação.
Decidiu também desfazer de todo sentimento negativo que cultivava nos últimos tempos.
Respirou fundo e imaginou saindo de si, tristeza, magoas, ressentimentos, ciúmes inúteis, rancores, orgulho ferido.
Imaginou luz envolvendo seu coração, estampou no rosto um grande sorriso, a alegria envolveu toda a sua alma.
O antigo amor se tornou apenas uma boa vivencia que ficou para traz.
Emocionada com lágrimas nos olhos, disse em voz alta:
_ Meu Deus... Quanto tempo perdido?!
Guardando tantas coisas inúteis na minha vida, no meu coração...
De hoje em diante cultivarei a alegria de viver, na há mais lugar para negatividade dentro de mim. –
Sentiu-se leve como se caminhasse sobre nuvens.
Uma suave brisa tocou o seu rosto como a lhe dizer:
“Se agora, decidiu pela alegria. Grandes alegrias lhe são reservadas. “
Dentro do supermercado se dirigiu a cesta de doações de roupas aos necessitados.
Retirou dos ombros o belíssimo blazer azul, o beijou dizendo:
_ Leve para quem tiver a felicidade de te receber as alegrias que tive com você, as tristezas não existem mais. –
O colocou carinhosamente sobre a cesta.
Ao sair à rua olhou para o céu nublado, e mais uma vez falou alto:
_ Nuvens, a sua cor cinza que deixa o céu escuro não me deprime mais, pois sei que acima de vocês o sol brilha maravilhosamente. –
Feliz jogou um beijo para o alto.