MEU DIÁRIO
Este texto dá continuidade à história de Karol, o menino do conto ARRANJO FAMILIAR.
DIA 10, 13h (Carolina)
Querido diário,
Hoje apareceu um novato na turma da gente. Todas as meninas foram falar com ele. Ele é lindo, tem o cabelo louro pelo ombro, maior do que o de Karol. Eu também fui falar com ele, mas parece que Karol ficou com ciúmes porque depois que eu falei e voltei para minha banca, Karol não falou mais comigo. Eu queria que viéssemos juntos, como todo dia, mas parece que ele ligou e pediu ao pai para vir busca-lo antes do fim da aula. Eu não entendo esses meninos. Eles são muito complicados. Karol sabe que nós somos só amigos. Então por que é que ele tem ciúmes de mim? Por que fica pelos cantos quando eu falo com alguém desconhecido?
DIA 10, 18h (Karol)
Estou muito triste com minha amiga Carol. Nem vou lhe contar o que aconteceu. Acho melhor eu ir chorar, na minha cama, lá em cima, na casa de Bernadete. Benjamim está resfriado e ela muito ocupada com ele, nem vai ouvir. Talvez eu durma lá mesmo...
DIA 11, 15h (Carolina)
Querido diário,
Karol sentou numa fila longe de mim e durante o recreio não sei onde ele se meteu. Eu acho que Drica Sales tem razão. Karol é apaixonado por mim e não sabe porque diz sempre que nós somos só amigos. Mas se ela tem razão eu também estou apaixonada por Karol e não sabia. Está na hora dele ir comprar o pão das casas dele. Eu vou lá para baixo esclarecer as coisas. Depois eu lhe conto tudo o que acontecer.
DIA 11, 15h (Karol)
Hoje eu só fui para o colégio porque mamãe ligou logo cedo para a casa de Bernadete e mandou ela me chamar. Aí eu perguntei a Luiz se não era melhor eu ficar, porque Benjamim está resfriado e Bernadete, podia precisar de alguma coisa e aí eu estava ali para ajudar. Nem adiantou. Luiz disse para eu deixar de arrumação e tratar de ir para a escola. Também não falei com ninguém. Nem no café, nem quando desci do carro. Já estava entrando, no portão, quando mamãe chamou e pediu o beijo que dou nela todo dia. Na hora do recreio eu fui para a biblioteca. Carol que fique com aquela bichinha de cabelo louro batendo no ombro. Eu nem me importo. Sentei numa fila bem longe dela... Bom, agora eu tenho que ir comprar o pão das três casas, se não, não ganho o meu dinheiro. Mais tarde a gente conversa mais.
O hall do edifício Moom River é bastante espaçoso, possui cadeiras grandes e plantas ornamentais que, pela forma como elas são tratadas, cresceram muito, formando uma parede verde que circunda todo hall onde ficam os elevadores. Karol desceu pelo elevador de serviços, Carolina pelo social e encontraram-se no térreo. Karol não teve como evitar o encontro, porque o pequeno corredor de acesso ao elevador de serviço fica, exatamente, na frente do elevador social.
- Oi Karol! Você vai comprar o pão agora?
- Oi! Vou sim.
- Eu vou com você.
Dizendo isso Carolina segurou a mão gelada de Karol que não teve tempo de esboçar qualquer reação. Andaram calados pela calçada da rua movimentada até que chegaram à varanda, cheia de mesinhas e cadeiras colocadas, na frente da porta da padaria. A mocinha subiu o primeiro degrau e ficou de frente para o amigo.
- Preciso dizer uma coisa a você. Sente aqui comigo. Longe não. Puxe a cadeira para mais perto. Por que você está fugindo de mim?
- Eu não estou fugindo. Disse Karol com um fio de voz.
- Está sim. Você está se comportando como um bobo só porque eu fui falar com o colega novato. Ele veio do Mato Grosso e vai ficar no colégio da gente até o meio do ano.
- E para onde é que ele vai?
- Vai voltar para a Alemanha. Ele nasceu lá, no Tirol. O pai dele é pastor luterano e vão voltar porque o pai virou não sei o quê na igreja e tem que morar na sede.
- Ainda bem!
- Como ainda bem? Você está com ciúmes de mim?
- Estou! (Ante a surpresa da pergunta, Karol respondeu sem sentir.) quer dizer, não.
- Não?
- É! Estou. Você é minha amiga, só amiga, mas minha e eu não quero que você fale ou tenha amizade com aquele fulaninho. (Disse Karol, com a voz embargada).
- Ele tem nome. É Thomas Wolfgang Strasser Filho e fala alemão, que você não sabe.
- Eu sei. Sei falar pouco. Quando meus irmãos e minha mãe estão falando eu entendo tudo.
- Prometa que amanhã você vai falar com Thomas.
- Prometo!
Carol levantou-se e deu um beijo no rosto de Karol que, atônito, permaneceu sentado enquanto Carol entrava na padaria.
DIA 11, 18h
Querido diário,
Pronto. Agora esclareci as coisas. Karol e eu fomos de mãos dadas para a padaria. Acho que todo mundo estava olhando para a gente. Eu estou tão feliz. Estou com vontade de gritar para todo mundo que Karol me ama. Já telefonei para Drica Sales e passamos horas conversando sobre Karol. Eu beijei o rosto dele. Queria ter beijado na boca, mas fiquei com vergonha. Eu queria mesmo que ele tivesse pegado meu rosto e me beijado na boca...
DIA 11, 17h30
Ainda estou com as pernas tremendo. Encontrei com Carol no hall e fomos juntos comprar o pão. Ela foi de mão dada comigo. Eu só via ela. Parecia que a rua não tinha mais ninguém. Senti um friozinho gostoso na barriga o tempo todo. Depois, sentados naquelas mesinhas de lanche, sabe? Ela me fez tanta pergunta que eu terminei dizendo que tenho ciúmes dela. Aí ela me deu um beijo na cara. Eu queria que fosse na boca, mas não tive coragem para segurar a cabeça dela e beijar aquela boca linda como eu queria.
(Continua em CLIENTE ESPECIAL)