Coisas incontroláveis
Coisas incontroláveis.
Após sair da casa dela eu tive a ligeira sensação de perda. Tudo aquilo que ela me disse em tom claro e conclusivo mexera comigo. Nunca tinha ouvido assim uma pessoa falando e expondo o que realmente achava sobre mim, pena que não eram coisas boas. Ao longo da convivência com ela fui descobrindo que sou totalmente egoísta, sou estúpido e às vezes grosso também. Só penso em mim mesmo quando se trata de diversão e estou sempre a criticar tudo o que me rodeia.
Depois que ouvi isso fluindo em palavras que pareciam me bater fiquei chocado com a possível veracidade de tudo aquilo. Nunca tivera pensado nisso de uma forma que realmente me confrontasse e dissesse a mim mesmo toda a verdade. Sentia-me culpado e até mesmo fracassado pelas atitudes que fiz e pelos caminhos que tomei.
Não deveria ter feito o que fiz e me arrependo de não ter visto isso antes. Sentir a perda de alguém é muito ruim. Senti-me perdido, como que sem ter para onde ir e assim chorei.
Nunca tinha chorado em minha vida, pelo menos não como chorei dessa vez. Um choro que arrebenta por dentro e tudo fica destroçado. Como que tivessem me quebrado a marretadas. Cacos de mim estavam por toda à parte. É impressionante como alguém pode se mostrar forte em certas horas e totalmente inofensivo em outras e é como que as horas que fomos fortes de nada adiantaram.
Procurei me recompor, breve teria que sair e nada que eu pudesse fazer me faria melhor para enfrentar o mundo naquela hora. Tudo que queria era ficar deitado, com aquela dor profunda sendo alimentada por uma ponta de esperança.
Esperança é o conforto nos dado para sobreviver sem o que se tem. Mas a mediocridade peca por não conseguir ver isso. Acham que esperança é algo que faz você suportar a dor enquanto a felicidade não chega. Ledo engano.
Sempre me considerei auto-suficiente demais para admitir uma perda desse porte. Tudo é bem confuso para mim. Pensei que saberia como lidar com essa situação. Como controlar o coração? É ilógico, mas acontece assim. A dor vem direta no coração e ficamos como que feridos em uma batalha esperando o ferimento passar ou alguém vir curá-lo. Os dias começam a passar mais devagar e as aflições crescem de uma forma incontrolável.
Até nisso sou analítico. Como consigo me analisar no sofrimento não sei mesmo, mas é realmente frustrante saber que sou assim. Como que uma câmera que acompanha a vida dos outros sem entrar dentro dela. Ser ausente é ruim. Odeio aprender pelo meio mais difícil.
Mas agora sei o que quero e sei o que tenho que mudar. Nada basta para crescer e mudar antigos hábitos. Mudar como se é. Se faz mal ao coração temos que mudar. E esse é meu objetivo agora. Mudar.
Olhe para o mundo e veja quantas coisas tem que mudar? Bem, começar por mim mesmo não é uma má idéia. Ser um exemplo, um algo a ser alcançado. “Olhem, eu mudei” seria uma frase de grande orgulho. Pena que as pessoas não iriam dar muito ouvido a ela. Hoje em dia as pessoas não ouvem muito umas às outras.
Sei que nada é fácil mas mudar é a palavra, sem mudança não vou a lugar algum. Difícil vai ser mudar alguma coisa com essa dor aqui no peito. Odeio coisas incontroláveis. As quais não podemos ter alguma influência. Odeio ser humano.