O Homem Entediado

Era uma noite de sexta-feira. Um homem estava sentado num banco, numa praça a olhar o céu estrelado. Ele pensava em sua vida, no que já aconteceu, no que estava acontecendo e no que estava ainda para acontecer. Não fazia muito sentido. Ele nascera, tivera sua dose de sofrimento e de alegria, mas e daí? Que saco! A vida era um tédio para esse homem. Ele olhava para as pessoas e se entediava. Elas se divertiam com tanta facilidade. Elas riam por quase nada. Elas se interessavam por ninharias: "está quente hoje, não é”?”; “detesto o calor, prefiro o frio”; “ Acho o frio uma delícia, principalmente quando estou no meu sítio, no alto da serra!". Elas, as pessoas, podiam ficar horas assim, se divertindo. O homem não sabia se ficava com raiva delas ou com inveja. Se ele fosse idiota também (ele considerava todo mundo idiota e, desnecessário dizer, tinha-se em alta conta) a vida seria bem melhor, ele teria mais amigos, mais namoradas, mais emoção.

Mas ele era muito inteligente (em sua humilde opinião). Inteligente demais para assistir TV, para comentar sobre o tempo, sobre o final de semana etc. Então ele avista um casal de namorados num banco próximo ao seu. A inveja o atacou, como sempre acontece. Ele tenta diminuir a dor lembrando do que leu nas Confissões de Santo Agostinho: Santo Agostinho sempre falava de seus prazeres carnais com desprezo, sempre afirmava que momentos de gozo o afastavam de Deus. Ele tinha de pensar nisso para se sentir melhor. Mas afinal o que ele podia fazer? Ele não se encaixava. Não tinha a chama de entusiasmo que os outros tinham. Será que a culpa era dele? Se levantou e foi para casa. Foi ler Dostoievski.

dsm
Enviado por dsm em 14/06/2011
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