DONA MURICOCA
Era velha, não tão velha na fisionomia física, na aparência ate que era meia sola, mas aparentava velha na experiência que demonstrava ter, andava meio corcunda, apoiando-se numa bengala que improvisara. Rastava a perna esquerda, por motivos que, segundo ela, teve que correr uma noite toda, mata adentro, para fugir de uma criatura não identificada.
Contava mirongas a todos, as crianças a rodeavam implorando-a que contasse uma historia, ela enchia de entusiasmo e falava tanto que ao passar horas as crianças estavam boquiabertas e iam-se esparramando uma ‘a uma. Mas com o passar dos tempos ela conquistava mais e mais adeptos, e ninguém enjoava de suas historias fantasgomicas.
Todo santo dia ela caminhava pelo vilarejo e sempre encontrava donas de casa fofocando sobre a vida alheia, la ia a velha dar seu palpite. Em outro momento encontrava-se com as crianças que brincavam na ladeira, quando avistavam a velhinha, largavam seus brinquedos e corriam para ouvir seus casos. Os senhores que trabalhavam na lavoura de café, sempre ouviam suas anedotas ao se depararem com ela no caminho.
Numa tarde chuvosa do mês de fevereiro, a velha contadora de historias Dona Maricoca, era assim que era tratada carinhosamente pela pequena população de Fofoqueiral, não saiu de casa para perambular na rua. Assustaram os amigos e vizinhos, foram procurar por ela. Encontrou-a deitada em sua cama dormindo um sono tão profundo que ninguém era capaz de acordá-la.
A cidade emudeceu, não se ouviam mais as historias, então como contar historias, as donas de casa não saiam mais no muro das vizinhas, as crianças não brincavam mais, os trabalhadores não voltaram pra casa. Tudo ficou estagnado.
O prefeito mandou construir um centro de convenções chamado “Dona Muricoca”, ali era o único lugar onde se ouvia e contavam historias.