Melancolia Noturna

Forjado no fogo da vida agora tão insípida, tenho de me encontrar todos os dias com o pior dos meus desafios: Eu mesmo. É só acordar e, em um ato despercebido, fixo de repente meu olhar no reflexo do espelho do banheiro, e lá está a moldura abstrata do sobrevivente, sem cores, sem passado ou futuro.

As ruas antes tão amigas das noites boêmias, agora abrigam seres de pele, ossos e nescessidades. Assim eu consigo enxergar a coisa miserável que é a vida dos que se sujeitam as loucuras de um mundo passageiro, fechando os olhos da alma e abrindo o corpo para as mazelas da rotina cotidiana. Talvez sejam só lembranças, devaneios deste que parece está chegando ao seu fim carregado por suas próprias escolhas, porém, loucura ou não, tudo isso é doloroso demais para mim.

O frio desta noite é tão intenso que, de uma hora para outra, minhas mãos começam a tremer, e eu tenho de refugiá-las dentro do meu casaco. A pele negra agora parece querer empalalidecer. As luzes da cidade aos poucos se extiguem no meu campo de visão, e até mesmo os adultos que buscam diversão na noite já se aquietaram, sobrando somente eu e o silêncio. Silêncio amigo, a quanto tempo posso somente rogar a tí? Quando se deu a ultima vez em que pude sentir a fé correndo em minhas veias? Como agora, tu somente escuta, e com os olhos atritados contra o tempo, vou me entregando também ao sono: quem dera fosse este eterno.

Felipe de Oliveira Ramos
Enviado por Felipe de Oliveira Ramos em 13/06/2011
Reeditado em 22/11/2011
Código do texto: T3032257
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