SOBREVIVENTES

Foi numa noite destas, em que a maioria da sociedade organizada está abrigada das baixas temperaturas, que um grupo, a margem pelos mais diversos motivos, tentava se abrigar dos 11 graus previstos para a madrugada num beco próximo de todos nós.

Os poucos pertences só aliviavam a sensação de frio. O piso concretado, aos poucos se tornava como uma "pedra de gelo" e o que restava era "pedir" pela chegada do sol.

Neste clima, alguns bebiam cachaça, outros se permitiam fugas mais pesadas e os mais velhos tentavam se proteger, também, dos mais novos a fim de tentar evitar o roubo de seus farrapos.

Porém, durante madrugada, a necessidade os aproximava num interesse maior de sobrevivência e calor humano.

O frio cortava a carne como uma navalha, mas quanto mais o vento gelado castigava, mais aqueles corpos se abraçavam em meio a tosses, gemidos e lágrimas. E assim ficaram por horas nesta troca solidária para se manterem vivos.

Quando os primeiros raios de sol sinalizaram, os olhares se procuraram de forma especial; "Morreu alguém" foi a pergunta.

Um olhou para o outro; um balançou outro numa estranha procura.

Aos poucos foram se levantando do chão de gelo para o desafio de mais um dia.

Todos se abraçaram solidariamente. Pelo menos naquela noite, ninguém morreu.

Nota do autor: Doe um casaco ou um cobertor para um semelhante que vive nas ruas.