Mariana
Quando Mariana chegou em minha barraca de doces, foi logo pedindo dinheiro empresta, pra ir ao médico, pois não estava se sentindo bem.
Ela era muito bonita, negra com a pele brilhosa e corpo de mulher feita, apesar de ter apenas 16 anos.
Olhei meio desconfiado, mas mesmo assim emprestei, ela me disse que pagaria de alguma forma, tudo bem, respondi.
Quase um ano depois, ela voltou e me pediu de novo, respondi que não. Há algum tempo havia emprestado dez reais e não havia pago.
Mariana baixou a cabeça e pediu desculpas mas que desta vez ela pagaria de alguma forma.
Me senti mal e acabei emprestando, afinal de contas não tenho nada neste mundo e o que penso que é meu é emprestado.
No outro dia, ela voltou e disse que não tinha dinheiro, mas que se eu quisesse faríamos amor.
Ela era muito linda não vou negar, mas olhando bem. Não era do tipo que se vende por dinheiro algum.
Acabei não aceitando, pensei, porque não conversar primeiro, achava que alguma coisa não batia.
Mariana me explicou que não ia fazer amor comum com penetrações, porque, eu estaria correndo risco de vida, pois ela era soro positivo.
Daí por diante, conversamos muito, algumas pessoas achavam que eu estava pegando, mas não dei importância. Afinal de contas já tinha sido julgado mesmo, pra que explicar agora.
O tempo passando e quando ela chegava dava o dinheiro da passagem, pra ir ao hospital, buscar os remédios.
Mariana, por algum tempo desapareceu, confesso que fiquei um pouco chateado, nenhuma noticia, e eu me sentia já parte do mundo dela, e achava que era do meu.
Na véspera do natal, Mariana apareceu, toda sorridente, me deu um monte de beijos, me chamou de pai, depois irmão, depois de amigo, e quando se despediu com um sorriso nos lábios, me chamou de amor.
Quando estava me preparando pra fechar a barraca, apareceu uma senhor, abatida com os olhos fundos, e perguntou se me chamava Sr. Luiz.
Respondi que sim, então pediu que eu procurasse um médico, pois a filha dela, a Mariana era aidética, esta foi a palavra.
Disse que não havíamos feito nada, que era apenas uma amiga, só isso.
Com os olhos cheio de água, me contou como ela adquiriu a doença, e como foi a morte dela.
Morte? Perguntei.
Sim seu Luiz, Mariana morreu ontem à noite, e foi enterrada hoje de manhã, e só falava o seu nome.
Uma lágrima, abusada, caiu de meus olhos.
Quando aquela senhora, saiu, sabendo que nunca toquei sexualmente em sua filha, fiquei olhando pro nada, pensando em tudo.
Rapaz, ela foi lá se despedir e me avisar que estava bem.
Peguei o cd do Zeca Pagodinho, música lama na rua, e deixei tocar até não agüentar mais de ouvir.
Ela me disse que queria ser sempre lembrada quando tocasse esta música.
Até logo Mariana logo este velho estará te encontrando.