Quato solidão.
Um quarto.
Uma janela, uma porta, uma cômoda, um guarda-roupas, alguns pares de sapatos, tênis, chinelos, livros mal acomodados, lidos e ainda por ler e, num canto um violão.
Ao fundo um muro impávido silencioso e só. No centro-canto do quarto, a cômoda, reduto de varias bugigangas: cadernos de registros da então literatura das disciplinas da faculdade; nas gavetas, pares de meias cuja maioria com grandes furos nos dedões e nos calcanhares. Cuecas já manchadas e surradas. Em outra gaveta, alguns livretos de palavras cruzadas, agendas já vencidas cujas pessoas e telefones e endereços já não são mais os mesmos. Alguns baners; na plataforma da mesma, um barquinho, ou melhor, uma jangada, registro da última viagem feita no ano anterior a Porto Seguro/BA. Ao lado da TV Telefunken um Vídeo cassete preto, daqueles 4 cabeças, que até hoje nunca entendi o motivo e necessidade de tantas cabeças, visto que o mesmo não tem nenhum outro membro, tal como braço, perna, pescoço... Apenas alguns cabos, lembrando que sistematicamente ele já não passa nada mais.
Das quatro paredes, apenas uma ostenta um quadro com a minha foto falando-me do tempo já decorrido. Ao lado mais abaixo um pouco, um espelho com as bordas de plástico cor-de-rosa, que a muito tempo não retrata a minha imagem.
A cama. A mais composta, mas a despeito das suas vestes, expressa a mais solitária das presenças, a minha e a dela. Na cabeceira, o meu maior companheiro e confidente: o meu travesseiro. Este sabe de tudo a meu respeito; minhas queixas, minhas madeixas, desenganos, aventuras e às vezes algumas conquistas. Mas o melhor dele é que só me houve. Não reclama, não me julga e não me contesta em nada. Ao contrário, quando o abraço, a sua anatomia se fecha com a minha, transformando no meu par perfeito. À noite, neste quarto entra mais um personagem: Eu, que faz companhia aos personagens citados acima. Assim com eles e como eles, permaneço mudo recostado sobre o meu travesseiro; medito mais um dia vivido.
Mas amanhã, assim como o novo dia, nascerá também uma esperança de novas conquistas de vida e de outro personagem para doravante dar a este quarto uma outra denominação, que não seja a de quarto solidão.