Cabo de Guerra.

E saiu batendo a porta, me deixando ali com sentimentos engasgados na garganta, como se formassem uma bola de pêlo que eu não conseguia digerir. Uma bola enorme de pêlo, na minha garganta! Que horrível sensação, de não conseguir engolir aquela coisa que impedia os meus pulmões de respirar livremente, e ia aumentando, aumentando, quase me saía pela boca, quase me posicionei de gatas no chão e comecei a vomitar esses sentimentos, todos eles, no chão da minha sala. E olha que o meu tapete é persa, custou caro, e mesmo assim eu estava disposta a vomitar todas aquelas sensações e sentimentalidades ali mesmo, e deixar que o ácido no meu estômago corroesse toda a decoração da minha casa, assim, toda mesmo.. o tapete, o sofá, o piso lisinho... tudo, que corroesse essa merda toda, desde que aquilo saísse de dentro de mim.

Olhei pra fechadura, o chaveiro ainda balançava devido à brutalidade com que ela bateu a porta ao sair. O chaveiro... vai e vem, vem e vai, balançando levemente até parar ao todo, é a nossa foto ali dentro dele, que droga. Estávamos dentro do chaveiro, balançando conforme alguém abria e fechava a porta da nossa casa, tipo corda bamba ou cabo de guerra. Cabo de guerra, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco por assim dizer. Meu Deus cara, você simplesmente desistiu de continuar puxando a corda, acorda! E sai assim, gritando e batendo portas como se fosse dona da verdade, dona da verdade! Patético! Não sabe nem somar as nossas vidas, nem dividir as nossas emoções, nem subtrair os nossos problemas... só faz multiplicação. Multiplica o nervosismo pelo triplo de insensatez. O resultado é isso: um chaveiro na corda bamba, o vai e vem de nós duas ali dentro, e a corda arrebenta pro meu lado porque você deixa de puxar.

Sabe que o primeiro impulso foi ir atrás de você né? As mãos se esticaram em direção à porta assim que seu último fio de cabelo saiu do campo de visão e o bang sonoro da porta se fez presente. Os braços esticados, as pernas flexionadas como se fossem pegar um último impulso pra que eu te alcançasse,mas não passou disso. Os braços logo ficaram frouxos ao lado do corpo, as pernas voltaram à flacidez inicial e foi aí que a bola de pêlo se formou na garganta. Impossível de engolir, de dissolver, de expurgar... se faz presente sempre, e na beira da cama está o resto da corda que você largou, no nosso cabo de guerra ninguém saiu vitorioso.

Lorrayne T
Enviado por Lorrayne T em 06/06/2011
Código do texto: T3016747
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