O Bolo
Antônia era uma senhora muito rica e famosa. Atuava no teatro desde a juventude.
Há muito tempo venho querendo iniciar uma história com a clássica frase “Era uma vez”, talvez seja coisa de infância, dos contos de fadas que me eram narrados. Nunca tive a oportunidade. Como esta história é uma “breve fábula”. Achei por bem iniciá-la desta maneira. Vamos lá.
Era uma vez uma senhora muito rica e famosa, que se chamava Antônia. Vinha de uma família muito abastada e que ainda soube aplicar muito bem o seu dinheiro. Antônia era atriz de teatro e ficou muito famosa nos palcos de seu país. Com o dinheiro, conheceu o mundo e conheceu pessoas. Sua vida era uma festa e assim neste meio cresceu e envelheceu. Com o passar dos anos, alguns bons amigos se juntaram a vida de Antônia e passaram a conviver com ela. Já depois de uma certa idade, ela se casou com o ex-marido de uma amiga, pois entre eles a coisa não dera muito certo, mas com Antônia a coisa era diferente, a veia artística, a atriz que sempre foi e nunca deixou de ser, apesar de há muito afastada dos palcos, nunca deixou de se manifestar. Antônia era atriz em tempo integral.
Antônia levava por fim uma vida comum dentro de seus padrões capitalistas abastados. De alguns, ela se servia, já outros se serviam dela, isso dentro de seu círculo de amizades, que para não enjoar, a cada ano ou dois se renovava.
Mas a idade chega para todos e para todos existia Antônia.
Naquela festa, sua última, mesmo que ela não soubesse, estavam todos animados. Porque ela se recuperou de seu último surto psicótico, que a estava levando as ruínas. Viciada em drogas para aplacar sua solidão e suas compulsões, ela tomou na festa a sua dose derradeira. Estavam todos reunidos diante do enorme bolo quando ela foi ao banheiro. A ansiedade tomou conta de uns e a impaciência de outros. Logo tudo virou desespero. Correram todos para o hospital, mas o infarto havia sido fulminante. Os amigos decidiram enterrá-la nas primeiras horas da manhã. E até lá, discaram inúmeras vezes os botões de seus celulares, pois sua amiga merecia uma fabulosa despedida. Muitas flores, muito choro, muitos pesares.
Eram por volta de meio-dia quando os três amigos, que tinham a casa de Antônia como sua, adentraram novamente pela sala, ainda enfeitada da festa. Ao chegarem em frente a mesa, se depararam com uma surpresa sobre ela. Estava em cima da mesa, intacto, o bolo.
- O bolo! – exclamou um.
- Que faremos com o bolo? – gritou outro em desespero.
Eles se entreolharam, sorriram, deram de ombros e foi Marta, a ex-mulher do atual viúvo que por fim declarou.
- O bolo? A gente reparte...
Esqueci de dizer, que como tudo que começa bem, tem que terminar bem... E viveram felizes para sempre.