Pensamentos desconexos.
Meia-noite, um maço de cigarros, uma garrafa de vinho... falta você.
Troco os canais da televisão compulsivamente, é só um hábito ordinário meu, uma vez que estou tão desligada pensando em você que não presto atenção nas figuras que se mexem ali na tela de sei lá quantas polegadas. O cigarro no cinzeiro já virou cinzas, a fumaça que levanta é do filtro queimando em vão, estou estática.
Garrafa de vinho vazia no chão, taça cheia na mão... balanço pra lá e pra cá, como aqueles provadores em concursos sabe? Encosto a taça perto da boca, inspiro a embriaguês, cadê você?
Meus olhos já sonolentos pelo álcool vasculham o quarto te procurando. Os lençóis arrumados na cama. Suas roupas no armário. Aquela nossa foto tirada num final de semana no campo toma conta da minha procura, fixo-me no seu sorriso.
Telefone tocando, corro atender, tropeçando nos próprios pés:
- Alô?... Não, hoje não. Porque? Ah tô bem não sabe? Haha, sim sim, tenho juízo.. tchau.
Não era você... apenas amigos querendo sair, justo hoje! Hoje não cara, não dá. Tô tendo minha crise de abstinência me entende? Você viajou há uma semana, sim eu sei, uma semana é pouca coisa, passa rápido... eu pensava assim também, até ficar sozinha aqui nesse apartamento cercada pelo seu cheiro, pelas suas coisas... por tudo, menos por você.
Cansei de dormir ali naquela cama sozinha cara, é muito grande, me perco nos lençóis, grito por você nos sonhos e você não aparece na minha porta de manhã... deprimente não?
O vinho acabou, são três da manhã, acendo outro cigarro. Ligo o rádio naquela estação que você sempre deixa programada pra nos despertar todos os dias, porque eu fiz isso? Todas as nossas músicas tocando em sequência, é complô! O rádio, sinto você em cada nota musical que sai dele, todas as vozes parecem com a sua quando chegam em meu ouvido já cansado de tanto silêncio, cansado da tua ausência aqui.
Perdi o calendário, é, aquele aonde você marcou o dia do seu retorno dessa viagem de última hora pra ver seus pais, e agora eu não sei quando posso acordar sorrindo com você aqui, burrice a minha né? Vasculhei o apartamento todo, todinho mesmo, encontrei bilhetes e cartas antigas, fiquei relendo sentada no chão da sala, que saudades...
Cinco da manhã, me deito na cama gigante, nesse buraco fofinho que você deixou aqui, aí o álcool faz o seu efeito, adormeço.
(...)