Sem Titulo por enquanto. -1° parte

O dia havia acabado de despertar quando o coração de Matheus começou a se renunciar a bater, era uma bela manhã de domingo, um dia ensolarado. Tudo indicaria que faria um dia quente. E enquanto isto Matheus sentia seu sangue gelar, nem mesmo os raios fortes que invadiam a casa pelas frestas e lhe banhavam o esquentavam. Levava a mão ao peito e o apertava como se tentasse de alguma forma arrancar-lhe a dor do peito e atira-la ao longe. Aos poucos o sol ia surgindo cada vez mais forte se impondo ao céu. Em Matheus escorria lhe gélidas lagrimas que iam acariciando lhe a face até se perderem em meios aos lençóis.

O radio relógio começa a tocar, já era hora de despertar. Ele estava programado para despertar em sua rádio favorita. E assim a musica também começou a invadir o pequeno quarto, e era seu dia de sorte, na radio tocava sua musica favorita. Uma voz rouca e suave com um leve tom de melancolia se mesclava com os gemidos bruscos de Matheus. A cada centésimo de segundo que passava com o coração inanimado a dor aumentava bruscamente.

I hurt myself today

To see if I still feel

I focus on the pain

Estufava o peito para cima e em seguida o recolhia com toda a força para dentro do colchão, enrolou-se ao lençol enquanto se virava de um lado ao outro da cama, explorando as extremidades evitando a queda por muito pouco. O sol já resplandecia seus raios por todos os lados e muitos ali envolta começavam abrir suas janelas para admira-lo e sentir o calor da vida, na rua começava os primeiros ruídos a serem propagados, já se podia ouvir o baque surdo das portas que as crianças faziam ao sair de casa, correndo pelas ruas em direção ao campo para um costumeiro jogo de futebol. Mais um forte baque é propagado na bela manhã, porém, é abafado facilmente pelas crianças eufóricas correm até o campo.

Matheus agora encontrava-se estirado ao chão gelado de madeira, e o arranhava com força deixando marcas de suas unhas ao chão.

Try to kill it all away

But I remember everything

Enfim Matheus se deu conta do quanto era em vão a sua luta contra o anjo da morte, e finalmente deixou-se levar. E pensou no que estaria abandonando ao partir. A primeira coisa que lhe veio a mente foi o emprego bem renumerado que havia conquistado depois de tanto esforço e dedicação de uma vida inteira. Esforço que o fez perder as duas coisas mais preciosas em sua vida, sua amada ex-esposa e sua preciosa filha, costumava chama-la de princesa Alice a mais bela entre todas as garotinhas, e de fato a garotinha merecia todas esta bajulação, pois, era de uma beleza invejável a qualquer um.

E mesmo neste ultimo momento, Matheus levou seu pensamento primeiro ao trabalho e depois a sua família, como sempre costumava a fazer, se ao menos lhe fosse oferecido uma nova chance, faria diferente. E novamente a face lhe era acariciada por lagrimas, só que desta vez estas eram por imaginar como a pequena Alice que era tão apegada ao pai viveria dali em diante. A pobrezinha já havia sofrido de mais com a separação dos pais e por contra vontade teve de ir morar com sua mãe. E desde então todos os dias a pequena Alice ligava para o pai para lhe desejar boa noite, bom dia, boa tarde entre outras ligações escondidas da mãe para saber que horas o pai iria busca-la para passar algumas horas juntos.

I will let you down

I will make you hurt..

Matheus então se deu conta de que não poderia se entregar assim, havia muito a se fazer, a se desculpar. Não podia morrer assim. Solitário, jogado ao chão de sua casa. Ele tinha uma família da qual a esperava e amava. E então ao vasculhar o quarto com os olhos, deparou-se com a imagem de Jesus pregada a parede, como se fosse algum tipo de alusão.

Matheus sempre foi uma pessoa religiosa, ia a igreja regularmente, tinha em dia teus deveres com o seu lado religioso. Como neste momento deixou-se esquecer do grande salvador. E com seus últimos esforços orou, orou e pediu com toda a fé que lhe restava em seu coração inanimado para que lhe dessem uma segunda chance, para que pudesse fazer diferente, para que da próxima vez que a morte vier lhe buscar ele ter ao menos sua amada família ao lado, com a sensação de dever comprido, de ter passado todos os ensinamentos para a pequena Alice, de passar todo o seu amor para sua esposa e deixar claro a ela o quanto ela foi amada e que não existira alguém neste mundo capaz de ama-la como ele a amou.

Beneath the stains of time

The feelings disappear

You are someone else

I am still right here

Por fim as ultimas lagrimas escorreram lhe a face e Matheus lentamente cerrou os olhos, e deixou-se levar pelo momento. Como uma folha, que ao desprende-se da copa da arvore é levada pelo vento.

Sem duvida alguma aquele domingo seria um dia especial, um belo dia de sol do qual fazia tempos que não o perpetrava. Os raios de sol já não entravam mais timidamente pelas frestas, mais sim invadiam a casa de uma só vez. Aquecendo aqueles que o cruzavam o caminho, e como por um ato divino, Matheus sentiu o ar lhe invadir e queimar os pulmões o coração voltava a bater ferozmente, sentia o sangue percorrer lhe todo o corpo, sentindo o calor daquela bela manhã de domingo.

Para Matheus não restou mais nada a não ser levar ambas as mãos aos rostos e chorar, chorar de alegria, de gratidão. Chorou como nunca havia chorado antes. Em meio ao choro soluços e risadas mesclavam-se, e saiam de sua garganta iguais aos grunhidos de animais que clamam a morte.

My sweetest friend

Everyone I know goes away

In the end

Aos poucos Matheus ia recobrando a serenidade e as lagrimas começavam a ser contidas, e os grunhidos agora davam espaço para inúmeras palavras de gratidão, mais e mais palavras de gratidão e ode eram despejadas de forma interrupta.

Matheus levantou-se com extrema dificuldade mal conseguia manter-se em pé, suas pernas ainda não haviam parado de tremer, sentia-se fraco e de fato estrava extremamente exausto, esgueirando-se pela cama sentou-se e estendeu as mãos a frente de forma que as pudesse fitar e então as fechou com toda sua força. Ainda não conseguia acreditar em tudo que havia acontecido naqueles poucos minutos de domingo.

De repente sentindo-se vigoroso levantou-se de solavanco e correu em direção a parede, onde despregou aquele que acreditava ser o seu salvador, com a estatua em mãos beijou-lhe a face em meios a palavras de gratidão. Colocou-a contra o peito, junto do coração que até pouco tempo atrás se recusava a bater e o apertou com ternura. E ao abraçar a estatua lembrou-se o do porque aquele dia era tão especial, era um domingo especial. Era o dia em que a pequena Alice faria dez aninhos. Foi então que ligou os fatos, ele não podia perder mais tempo, não sabia ao certo o que poderia acontecer ao termino do dia. Só sabia que aquele domingo de sol iria ser o melhor dia na vida da pequena Alice.

Com cuidado depositou a estatueta encima da cama, e novamente beijou-lhe a face o agradecendo pelo dia concedido. Com cautela foi se distanciando da cama caminhando vagarosamente até a porta a abriu com toda cautela possível como se estivesse evitando barulhos dos quais pudessem acordar alguém que repousasse ali no quarto. Saiu do quarto e novamente com cautela começou a fechar a porta, sempre observando pela fresta a pequena estatueta depositada na cama, até o ponto de a porta se fechar por completo.

I will let you down

I will make you hurt

Matheus foi até a beira da escada da qual dava acesso a sala da casa mais não desceu parou por alguns segundos e respirou fundo ao ver os retratos de sua filha e amada esposa que enfeitavam a parede paralela a escadaria. Segou-se firme ao corrimão da escada e deu o primeiro passo com extrema dificuldade, estava a se emocionar novamente ao ver os retratos expostos. Ao poucos foi descendo degrau por degrau até o ponto onde a escada fazia uma curva para a direita formando um ângulo de noventa graus com a parede, da qual tinha pregado a ela o retrato da Alice esbouçando o mais belo sorriso que já tinha visto, tal sorriso foi motivado no dia que Matheus voltou de uma longa viagem de trabalho, junto do sorriso da menina havia os olhos marejados. Mais de fato nada no mundo poderia ofuscar o brilho daquele sorriso.

Matheus arrancou o retrato da parede e o pôs contra o peito e continuou a descer as escadas ainda mais fragilizado, havia se debilitado de mais, sentia-se fraco, com a garganta seca precisava repor as energias para falar com sua filha, pois, como de costume já iria dar a hora da primeira ligação de Alice, desejando-lhe um bom dia e obviamente perguntando a que horas o pai iria vela para terem um tempo a sós para comemorarem antes dos outros em uma pequena festinha particular o aniversario da menina. Era evidente que para Alice nada importava para ela desde que pudesse ficar a sós um pouquinho se quer com seu pai, por ela nem seus amiguinhos de escola e bairro seriam convidados, seria uma festa particular.

Passando pela sala Matheus depositou o retrato da menina sobre a poltrona que se encontrava ao lado do telefone, poltrona da qual já perdeu horas e horas ali sentado pendurado ao telefone com sua filha e até mesmo com sua amada Beatriz. Depois de depositado a foto sobre a poltrona seguiu em direção a cozinha, indo em direção a geladeira. Pegou uma pequena garrafa da qual continha suco e voltou para a sala.

Ao adentrar a sala sentiu um leve frio percorrer lhe o corpo, a sala estava escura. Estava toda fechada, que para Matheus era algo insensato, pois com todo aquele sol lá fora não tinha o do por que manter as grossas e pesadas cortinas fechadas. Foi em direção a elas e as abriu de uma só vez. Rapidamente o sol tomou conta do lugar e Matheus sentiu-se aconchegado novamente. Foi até a poltrona pegou o retrato da filha e sentou-se, deu um pequeno gole no suco que estava ao lado e já o deixou de canto, pressionou a foto da filha contra o peito, e, pois a pensar novamente em tudo que havia acontecido naquele inicio de manhã conturbado.

Sentindo o calor do sol invadir lhe o corpo Matheus reclinou a cabeça na poltrona, esperando pacientemente pela ligação da filha e ali esperou sem mexer se quer um musculo. Esperou e esperou até que de repente o som do telefone quebrou o silêncio que ali reinava.

O telefone tocou uma, duas, três vezes e Matheus não o escutou, o telefone continuava a tocar até que a ligação caia. Em segundos o telefone já tornava a tocar, Matheus encontrava-se ao lado do telefone, sentado em sua poltrona abraçando ao retrato da filha. E novamente o telefone pôs a tocar e Matheus nada fez, não havia mais o que fazer. Matheus já não podia mais ouvir o telefone tocar. O telefone tocou por mais algumas vezes e cessou assim como o coração de Matheus.

If I could start again

A million miles away

I would keep myself

I would find a way

rheringer
Enviado por rheringer em 01/06/2011
Código do texto: T3007440
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