O Amante

Lívia tinha um pecado, todos tinham. Quem nunca pecou atire a primeira pedra, doce ironia, o pecado é apenas um denominação do erro, mas errar é humano, persistir no erro é burrice ou insanidade, ela já persistia há um mês.

O pecado dela tinha mais de um metro e oitenta, corpo do tipo atlético, ou pelo menos uma bela imitação, era casado, a aliança assim como a sua, devia estar no bolso ou em uma gaveta qualquer, ele devia ser casado com alguma loira metida, burra ou sem cultura, ou simplesmente pouco para seu apetite sexual masculino, homens não se saciam tão facilmente, a maioria é errônea e infiel.

Ele estava nu, na cama do motel, as luzes estavam apagadas, mas seus olhos já tinham se acostumado à baixa luminosidade e ela conseguia ver facilmente as suas feições, alem do mais que, os relâmpagos brilhavam como faróis iluminando a culpa, mas ele não parecia notar, era só mais uma diversão, já ela imitava as gotas de chuva que escorriam na janela, usando como vidro a sua face cor porcelana.

O seu casamento andava mal, isso ela sabia perfeitamente, e se questionava todas as noites dos porquês. Ele estava tão distante, quieto, seria justificativa valida para o adultério o fato de que uma mulher também precisa de algo carnal? Amor, carinho, ela enganava a si, não tinha nada daquilo, a não ser um orgasmo falso e um corpo quente por cima do seu.

O seu marido tinha se distanciado muito depois da morte do filho, ele morrera de câncer aos 10 anos de idade, uma injustiça divina, depois disso, todos os invernos eram amaldiçoados, tanto para ele quanto para ela, a única diferença é que ao contrario dele que se embebedava todas as noites depois do serviço, ela se deitava com um homem casado em busca de uma fagulha de vida.

Não julgue uma pessoa pelos seus erros, pelos seus atos, julgue pelo que ela é. Lívia era uma boa mãe, uma boa pessoa e ate uma boa esposa, o motivo de ela ter cedido a investida de um homem casado, foi a vontade de se sentir viva novamente, a morte de seu filho a destruiu tanto quanto seu marido, e depois disso nada mais os motivava, ela o amava, daria a vida por ele, mas ele não mais a desejava, nem se quer a olhava, ela sentia falta disso, sentia falta do seu toque.

Ela se perguntava o porquê de ter cedido à investida daquele homem, já que teve insinuações de vários principalmente no começo de seu casamento, a resposta estava em suas feições, ele lembrava, mesmo que de maneira distinta a imagem de seu marido. Ela se deitava com ele imaginando a imagem do marido, e se segurava para não sussurrar seu nome e ofender o sujeito. Da primeira vez o gozo veio, não por prazer, mas por necessidade, as outras, seu corpo já sabia que ali não era o seu marido, talvez desde a primeira vez já soubesse, mas, a mente nos engana, o desejo, molda ate em um homem distinto a imagem do amado.

Ela ainda o aceitava por causa um orgulho besta de se sentir mulher, já que seu marido a evitava, ela gostava de sentir viva, mesmo desde muito venha sendo apenas meia mulher. Uma palavra, um gesto, talvez fizesse seu marido a amar novamente, mas ela não vazia isso, ela não ousava, suas lagrimas brilhavam com a luz dos relâmpagos.

Ela olhou novamente o amante, e por fim tomou uma decisão a muito tempo não tomada, o seu erro chegou a tal ponto que ela não poderia se perdoar, aquilo tinha que acabar.Ela foi ate o banheiro olhando o nome de todos os contatos da sua agenda antes de jogar o celular na privada e dá a descarga.

A chuva molhou o seu cabelo quando saiu ao vento, ela não olhou para trás, nunca tornaria a vê-lo e se mesmo assim ele a procurasse ela o negaria, o bilhete de “não me procure mais” parecia ser bem claro e objetivo, as ruas estavam desertas e as águas enchiam as ruas. A imagem do marido vinha em sua cabeça, ela se sentaria, tomaria um gole de sua bebida, e diria que o amava, o privaria do seu adultério, essa parte ele não precisava saber.

Seus sonhos foram interrompidos por um relâmpago diferente, um zumbido fino, e um raio que brilhava vermelho pela chuva, a sua frente um corpo caído na esquina e um homem encapuzado parado no aguaceiro, seus olhos se cruzaram em olhares de medo e ambos correram, ele para a rua e ela entrando em um beco onde caiu, em seu estomago escorria sua vida e seus olhos perdiam o brilho com um pedido de perdão.

Jonasdeth Santos Oliveira
Enviado por Jonasdeth Santos Oliveira em 01/06/2011
Código do texto: T3006776
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