TEM UMA " COMIDINHA " AÍ, DOUTOR?
Ora, Dona Filomena mora sozinha e numa manhã de sábado sofreu um infarto. Quando as dores começaram a apertar ela começou a gritar:
- Socorrooooooooooooooo, me ajudem!!!!! E agarrou o celular para ligar para a irmã, que mora na mesma rua:
- Corre aqui, minha irmã, que estou sentindo uma dor terrivel no peito e chama logo o SAMU. Ai!! Ai !!
Dona Luiza levantou-se às pressas, trocou de roupa e rumou para a casa da doente. Encontrou-a agachada e passando a chave por debaixo da porta, pois não tinha ânimo de ficar de pé. Quando a porta se abriu, Filomena estava no chão se contorcendo, gemendo e encolhida feito um caracol. Dona Luiza tentou levantá- la mas ela gritou:
- Não, pelo amor de Deus não me toque. Chamou a ambulância?
- Sim Filomena, se acalme. (como se alguém sofrendo um infarto pudesse se acalmar!! mas, é o que temos que falar para o doente, né?)
Em poucos minutos a ambulância do SAMU chegou. (milagre??!!!!) Os paramédicos colocaram Dona Filomena na maca, administraram os primeiros socorros e a ambulância, em disparada, partiu para o Hospital do Coração, que ficava perto dali. (Ainda bem!!). E meio que desacordada e gemendo de dor, Dona Filomena ainda conseguiu ouvir a sirene: uimmmmm!!! uimmmmm!!! uimmmmm!! uimmmmm!!! (é assim o som de uma sirene? Que seja, é tudo ficção mesmo!!!).
No hospital, que já havia sido previamente comunicado por rádio da real situação da paciente, estava tudo preparado para recebê-la e levá-la imediatamente para o centro cirúrgico.
Dona Filomena submeteu-se a 3 pontes de safena e uma mamária (nunca entendi o que é mesmo essa tal de " mamária "!!). A cirurgia foi um sucesso, mas as primeiras 72 horas são muito críticas, UTI na pessoa, então!!
No dia seguinte, com menos de 24 horas de operada, Dona Filomena recebeu a visita do médico-cirurgião chefe da equipe, o Dr. Dioclécio, que veio acompanhado de seus assistentes e alguns internos que assistiram a cirurgia.
- Bom dia Dona Filomena, como está?
- Assim, assim!! Mas tem uma comidinha ai, Doutor??
Risada geral. Mas o Dr. Dioclécio falou sério:
- Mas Dona Filomena a senhora está com apenas 24 horas de operada e já pensa em comidinha!! O que seria " comidinha " para senhora?
- Hummmmmm!!! umas bolachinhas com suco? Ou um mingauzinho? Talvez uma sopinha? Pode ser uma frutinha? ____ Tá bom, Doutor, tá bom, eu queria mesmo era uma " comidinha" mais consistente, tipo: arroz, feijão, macarrão, carne, essas coisinhas.
Risada geral. Mas o Dr. Dioclécio olhou para todos e disse sério (muito sério):
- Sinto muito Dona Filomena mas a senhora tem que se contentar com ...
- (sua frase foi cortada drasticamente): com um sorinho, Doutor?
- É, com um " sorinho ", mas eu prometo que amanhã a gente pensa em " comidinha ", está bem?
Fazer o que? Dona Filomena resignou-se.
No dia seguinte o Dr. Dioclécio chegou lá para as 11 horas da manhã e encontrou Dona Filomena com uma tromba de elefante brabo, mas fez de conta que não notou:
- Bom dia, Dona Filomena, como está?
- Ah!!! estou ótima Dr. D-i-o-c-l-é-c-i-o. Se melhorar estraga. Mas tudo bem, eu sei que em todo hospital tem uma urna ridícula com uns papeizinhos mais ridículos ainda dizendo assim: DEIXE SUA SUGESTÃO OU CRÍTICA. Pois bem, vou mandar uma coisinha para Diretor deste hospital, dizendo assim:
E fez com a mão o gesto de quem escreve:
" Senhor Diretor!!
A minha SUGESTÃO é que o Senhor, como autoridade máxima deste hospital, diga para a sua equipe médica que trate bem os pacientes, dando-lhes " comidinha ". A minha CRÍTICA (destrutiva) é que vou chamar a imprensa e esculhambar esta espelunca.
Me aguardem!!
Ass.: Filomena
PS: NOTA PARA A IMPRENSA:
Senhor Repórter,
Eu não morri em decorrência de um infarto " quase fulminante ", mas presumo que vou morrer mesmo é de fome neste lugar. Põe na tela, Datena, põe na tela ".
Dessa vez ninguém riu.
E foi assim.