O ARTISTA
JULHO
O Artista
A família nunca tivera dinheiro para mandá-lo de férias seja lá para onde fosse, mas ele não se esquentava muito com isso, sua mãe e seu pai é que sentiam-se culpados por não poderem dar oportunidade para o seu filho conhecer outros locais. Mas ele, fazia de suas férias o que mais gostava.
Não era um adolescente cheio de amigos, mas era um jovem cheio de idéias, trancado no seu quarto. Quando não estava no colégio, que inclusive, era o seu martírio ; pois as pessoas o achavam muito esquisito, estava na rua `a cata de objetos desprezados pelas pessoas e ensacados nos lixos. Uma tampinha de refrigerante era o suficiente para reacender os seus olhos de alegria, pois dali ele conseguia vislumbrar mil e uma idéias , e assim, passava horas e horas perdidas entre lixos a montar um arsenal de material para a produção de suas obras-primas.
Os pais não o compreendiam. Por que ele não era igual aos outros? Por que não gostava de estudar, arrumar uma namorada e sair para assistir os enlatados hollywoodianos no cinema? Mas não tinha jeito. E ele não fazia nada para agradá-los, nem enganá-los.
O seu maior deleite, prazer absoluto era fazer daquelas miudezas, grandes peças para serem admiradas por quem entendia e se interessava por arte. Não ligava para os pais, nem para os colegas de turma.
Tudo o que via na rua ou nos outros, a sua imaginação de gênio transformava em algo. A solidão para ele era a sua maior e melhor companhia. E a ela ele guardava fidelidade. Todos os dias quando não estava no colégio, estava a sós com ela.
Nunca tivera uma namorada, porque simplesmente as mulheres não o atraiam sexualmente. A única vez em que se sentiu apaixonado ou não sabe ao certo o quê, fora por um menino do colégio que o rejeitou de todas as formas, além de falar para Deus e o mundo, que ele era mulherzinha. O tal não queria a amizade daquele garoto esquisito, feio, magro de olhos fundos e densos perto dele.
Ele, simplesmente a partir daí, recalcou aquilo que se chama paixão e resolveu apaixonar-se por si mesmo, através das obras de artes que fazia.
O Salão mais conhecido de artes plásticas da cidade estava com a seleção aberta para artistas novatos, não conhecidos pelo grande público. Ele poderia concorrer com três trabalhos e concorreu.
Durante semanas ficara trancafiado no seu quarto-ateliê e fizera muitas coisas boas. Resolvera inscrever três peças das mais lindas, intituladas: “A paixão que não se deu”, “A família a milhas de distância” e “Solidão-irmã”.
A exposição durou dois meses, e surpreendentemente os três trabalhos que ele inscrevera foram os agraciados com os três primeiros lugares e únicos.
Seus pais não acreditavam no que estava acontecendo, o filho esquisito, manchete do jornal da cidade, mas não sentiam-se menos vaidosos, é bem verdade que não entendiam nada de artes-plásticas, mas àquelas premiações fizeram que pelo menos eles respeitassem mais o seu silêncio e o seu isolamento. Com a premiação não faltaram também admiradores, sobretudo àquele que outrora o despedaçara no colégio e ele como boa pessoa que era, voltara a ser seu colega de classe. Mas só uma coisa ele não queria mudar: Sua solidão tinha que continuar a mesma, pois ela era a verdadeira dona de todos aqueles prêmios. Daí, enquanto o mesmo garoto que o rechaçara no colégio, queria uma reaproximação. Ele cada vez mais se distanciava, seu compromisso era com o se trabalho e sua companheira.