A Saga dos "Macarons"

ADAPTAÇÃO DO ORIGINAL FRANCÊS

Cozinheiras demais estragam o caldo! (equivalente português do provérbio inglês “Too many cooks spoil the broth”)

Pertinho do Natal, Larissa teve a brilhante ideia de fazer “macarons”, espécie de biscoito francês muito gostoso e na moda. Logicamente, ela mesma não sabe cozinhar, nem tem nenhuma vontade de se meter na cozinha. Por isso, encarregou a empregada, Elisângela, de prepará-los.

Logo de cara, o problema foi a receita original em francês! Flávio e Magali se dispuseram a ler, compreender e traduzi-la. Primeira constatação: os ingredientes não eram os mesmos, era necessário adaptá-los aos que existem aqui.

Elisângela teve medo de se arriscar sozinha e solicitou a ajuda de Magali.

Quanta mão-de-obra para encontrar os pistaches verdes sem sal (não serviam os de aperitivo) e a farinha de amêndoas! Não tendo achado a farinha pronta, Magali teve de comprar as amêndoas em noz, tirar-lhes as cascas, moê-las no liquidificador e, depois, peneirar a farinha obtida três vezes. De posse dos ingredientes, marcou-se o encontro em casa de Magali para, aproximadamente, às duas horas de uma tarde muito quente de dezembro.

Eis os personagens do “drama”:

Larissa - filha de Magali, que queria comer os “macarons”.

Flávio - marido de Larissa, genro de Magali, que auxiliou na tradução e, mais tarde, no transporte dos “macarons”.

Magali - a chefe e narradora da história.

Elisângela - primeira auxiliar de cozinha.

Maria - diarista de Magali e segunda auxiliar.

Isabela,“Bebel”- filha de Flávio e Larissa, netinha querida de Magali, que insistiu em participar dessa aventura.

Sérgio - marido de Magali, avô coruja de Bebel, que entrou silencioso e saiu mudo, exceto por uma inesperada intervenção.

Cenário – cozinha do apartamento de Sérgio e Magali.

Começou-se por organizar todos os ingredientes sobre a mesa da cozinha, por ordem de uso. No início, tudo corria às mil maravilhas. Magali preparou o merengue, enquanto Elisângela peneirava a farinha de amêndoas juntamente com o açúcar comum, mais três vezes! Bebel, com um bonito avental, não parava quieta, indo e vindo da cozinha à sala. Na cozinha, ajudava a misturar a farinha, correndo em seguida para a sala, onde ela mesma ligara a TV e estava assistindo aos desenhos animados. Sempre risonha, falante e em movimento.

Maria era a mais discreta, lavava a louça, preparava as assadeiras, acendia o fogo, acudia todo o mundo sem estardalhaços.

Após misturar muito bem a farinha com o açúcar, aí se agregou o merengue e começou-se a fazer bolinhas de massa sobre a assadeira untada. Os biscoitos seriam recheados de dois em dois, porém era muito difícil, até mesmo impossível, fazer as bolinhas do mesmo tamanho. Os “macarons” foram levados ao forno fraco, com uma colher de pau na porta para mantê-la entreaberta.

De repente, Sérgio, que, até então, estivera invisível, irrompeu na cozinha e convidou Bebel para descer com ele à piscina do prédio, pois estava um calor infernal e seria uma boa ir nadar! E aí, instalou-se o caos na cozinha! Todo o mundo parecia louco, todos falavam ao mesmo tempo. Bebel gritava, ria, pulava de alegria! Mas, e o maiô? Elisângela, que tomava conta dos “macarons” no forno, esqueceu-os completamente, largou tudo e correu à casa de Larissa para pegar o maiô. Felizmente, a casa fica pertinho, é só atravessar a avenida no sinal. Ela foi quase voando e voltou logo em seguida. Sérgio e Bebel mais que depressa desceram à piscina. E Magali? Ela bem que queria ir também, mas e os biscoitos no forno?

E os biscoitos no forno? ...

Logo que Elisângela saiu, felizmente, Maria descobriu que o fogo do forno se apagara. Os pobres “macarons” não podiam, mesmo, ter crescido nem assado!

Reacendeu-se o fogo, esperou-se um bocado e, enfim, conseguiu-se a proeza de assar os benditos docinhos franceses!

Magali fez o recheio com gemas, pistache moído, açúcar, creme de leite e baunilha, na falta de vanilina. Elisângela, nem um instante, deixou de falar e dar palpites, alguns até bem-vindos. Depois que os biscoitos esfriaram, foram recheados com o creme já frio e grudados de dois em dois, como os bem-casados brasileiros. Estavam deliciosos, mas muito quebradiços.

Bebel, de banhos tomados (de piscina e de ducha), os cabelos molhados, toda contente, levou os “macarons” (que não se quebraram) para casa.

Diagnóstico de Larissa: “É preciso tentar mais vezes, para acertar”!

Porém, Magali ficou pensando: “Mesmo que não tivessem ficado bonitos, estavam deliciosos” e tomou a firme resolução de fazer as tentativas, completamente sozinha, da próxima vez, pois “cozinheiras demais estragam o caldo”!

Magali Crescini
Enviado por Magali Crescini em 28/05/2011
Código do texto: T2999987