O craque Cubuzinho
No rádio exerço inúmeras funções, entre elas o de narrador esportivo. É algo apaixonante. Estar ali, empunhando o microfone e acompanhando de perto os lances, os mais inusitados possíveis é de uma magia incrível. O narrador não pode perder o lance e tem que contar com a memória para guardar nomes de jogadores e envolvidos no espetáculo.
O objetivo é fazer chegar até o ouvinte de casa ou presente ao estádio, a narração fiel, contando a posição em que os lances ocorrem, dentro de uma cadência e velocidade adequadas e a dose certa de emoção.
O ritmo é determinante na qualidade narrativa e essa observância levará ao profissional a ter credibilidade e, logicamente, audiência. O negócio é construir para o torcedor, a imagem do acontecimento, desde os lances mornos como a cobrança de um tiro de meta ou lateral até aos mais agudos, quando a velocidade ganha mais ênfase, uma jogada mais importante, até a iminência de um lance extremo em que possa redundar no grito sonoro e culminante de um “gooooool”.
Essas narrações tiveram início há muito tempo, na minha era infanto-juvenil. Sem a emissora de verdade, lá estava eu com a “latinha” na mão a transmitir uma partida de futebol, numa rádio imaginária. Era o começo de um sonho e a vontade de realiza-lo.
Faz bastante tempo desde aquela minha primeira narração esportiva. A audiência era total, daquela meia dúzia de torcedores que se acotovelavam para presenciar verdadeiras pugnas, que se travavam entre os jogadores de futebol de "botão", na saudosa rua Barão do Rio Branco.
Nada de amplificadores, microfones, fios ou fones. Era ali: frente a frente com os "ouvintes", soltando a voz, acompanhando dribles e passes e, claro, o melhor do jogo, o grito de "gooooool".
Embora gostasse mais de narrar e organizar os campeonatos, também tinha uma certa intimidade com a "tocadeira" e entrava na disputa, enfrentando adversários reconhecidamente difíceis e praticamente imbatíveis, como meu irmão Didi. Com nome (Ademir) e apelido de craque, o mano dava trabalho, sem estar imune às zebras, como é próprio do futebol (de botão), claro.
Um dos astros do meu time era o "Cubuzinho". Um atleta-botão, afeito à jogadas mirabolantes, cujo forte era cobrir o goleiro adversário, prevalecendo-se de seu "biotipo". Não como hoje, quando os botões dos jogos são iguais, em tamanho, cor e estilo, os de antigamente eram diversificados, o que propiciava ao dono do time, armar o seu esquema tático de acordo com as características "físicas" deles, geralmente com os grandes na defesa, os pequenos e velozes no meio e no ataque e, os gênios, como Cubuzinho, em qualquer lugar.
Ele era arredondado, como um minústico "Morro do Pião", o que lhe dava um status de excelente cobrador de falta. Era dos chamados "craques" inegociáveis e talvez, quem sabe, orgulhoso de sua condição de "atleta" numa mesa de futebol, tendo um destino diferente daquele que normalmente teria ao estar pregado ou costurado em algum vestido, camisola ou outra peça qualquer da indumentária.
Cubuzinho era o verdadeiro destaque, craque artilheiro como Pelé, Romário, Ronaldo Fenômeno ou Messi. Era o terror das defesas inimigas, aquele que fazia a diferença na mesa, jogando em casa ou no terreno adversário. Era o “jogador” que não tinha medo de cara feia. Enfim, era o “cara”.
Assim, ele fez sucesso na "mídia", tomando parte de uma diversão que era encarada com seriedade, em que cada um queria mostrar o máximo de desempenho.