Desconhecidos
Desconhecidos numa sala de espera. Um silêncio um tanto quanto constrangedor se instala. Uns olham para os outros buscando algum assunto.
Um senhor de óculos mexe a mochila.
A senhora gorda que traz um coração numa longa corrente no pescoço mexe no cabelo.
O garoto de óculos olha, hipnotizado, para o chão.
O senhor careca anota numa caderneta alguns números, fazendo contas.
A senhora de xale dá um longo suspiro – “ai, ai”.
Uma jovem negra entra na sala e todos dão apressadamente um “bom dia”. A impressão que se tem é que agora a conversa vai deslanchar, mas um silêncio de catedrais reina novamente.
O que cada um espera?
O que cada um almeja na vida?
Será que a gorda espera dar seu coração para alguém?
Será que o senhor de mochila espera a juventude de volta?
Será que o garoto de óculos espera que no chão apareça um buraco de onde surja um Pokémon para resgatá-lo?
Será que o careca almeja ter todas as suas contas pagas e que a ex-mulher deixe de atazaná-lo para que possa viver em paz com a atual mulher?
E a senhora de xale? Espera o que com tantos gemidos de “ai, ai”? Será que é alguma cantora de fado arruinada?
E a garota negra? O que espera com a mão no queixo e olhar perdido para a parede verde? Será que espera que nasça diante dos seus olhos alguma esperança?
Tantas vidas.
Tantos mistérios.
Tantos desejos.
Tantas desilusões perdidas numa sala de espera.
Esperam.