Desconhecidos

Desconhecidos numa sala de espera. Um silêncio um tanto quanto constrangedor se instala. Uns olham para os outros buscando algum assunto.

Um senhor de óculos mexe a mochila.

A senhora gorda que traz um coração numa longa corrente no pescoço mexe no cabelo.

O garoto de óculos olha, hipnotizado, para o chão.

O senhor careca anota numa caderneta alguns números, fazendo contas.

A senhora de xale dá um longo suspiro – “ai, ai”.

Uma jovem negra entra na sala e todos dão apressadamente um “bom dia”. A impressão que se tem é que agora a conversa vai deslanchar, mas um silêncio de catedrais reina novamente.

O que cada um espera?

O que cada um almeja na vida?

Será que a gorda espera dar seu coração para alguém?

Será que o senhor de mochila espera a juventude de volta?

Será que o garoto de óculos espera que no chão apareça um buraco de onde surja um Pokémon para resgatá-lo?

Será que o careca almeja ter todas as suas contas pagas e que a ex-mulher deixe de atazaná-lo para que possa viver em paz com a atual mulher?

E a senhora de xale? Espera o que com tantos gemidos de “ai, ai”? Será que é alguma cantora de fado arruinada?

E a garota negra? O que espera com a mão no queixo e olhar perdido para a parede verde? Será que espera que nasça diante dos seus olhos alguma esperança?

Tantas vidas.

Tantos mistérios.

Tantos desejos.

Tantas desilusões perdidas numa sala de espera.

Esperam.

Carla Giffoni
Enviado por Carla Giffoni em 24/05/2011
Código do texto: T2991438
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.