Aperto...
Ele acordou de madrugada, com uma insônia não costumeira e um aperto no peito que não sabia explicar. Olhou os dois filhos que estavam dormindo, tudo bem por ali. Pegou o telefone e ligou pros outros três já emancipados. Apesar da hora inoportuna, também tudo bem. Mas misteriosamente o aperto continuava. Era um aperto de pai, que se preocupa com o filho que não está em casa, com o filho que pode estar sofrendo.
Perambulou pela casa, acendeu e apagou luzes, ligou o computador, olhou e mandou alguns emails e aquele aperto sempre com ele. Levantou-se, foi à cozinha, fez um café e tomou. E sempre ao som dos latidos insistentes da vira-latinha companheira. Os latidos e o aperto no peito o estavam enlouquecendo. E, de súbito, ele resolveu olhar lá fora, além dos portões do lar, a fim de saber o que tanto incomodava a cachorrinha.
E ao abrir o portão, a surpresa que teve justificou o aperto no peito e os latidos tão insistentes. Numa caixa de papelão, encolhido pelo frio, dormia um menino negro, de aproximadamente um ano e meio. Sim, era seu filho. Estava ali, sozinho, desamparado, com frio... e ele soube, naquele momento, que se tornara pai pela sexta vez. E com o filho nos braços e lágrimas nos olhos, adentrou ao lar, deixando ali fora, aquele aperto que tanto o incomodara.