A Vistoria
Eduardo era um engenheiro agrônomo muito conceituado. Figura sempre de bom humor, tinha a simpatia e a admiração de seus colegas de trabalho.
Um belo dia recebeu uma missão que lhe deixou radiante: iria acompanhar alguns técnicos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, no Estado do Rio Grande do Norte, para vistoriar e avaliar os financiamentos concedidos com recursos daquele banco, para a abertura de poços artesianos. O programa isentava de pagamento os casos em que as perfurações não prosperavam. Ou seja, não se conseguia água. Poços frustrados, como eles chamavam. E lá se foram. Na primeira propriedade rural visitada, no sertão árido do seridó, o beneficiário mostrou um poço fechado, sob a alegação de que não havia água. O nosso esperto personagem, pediu para que a tampa fosse aberta e apanhando um pequeno seixo, jogou no poço. O barulho característico “thibum” indicou a presença de água. A desculpa veio em seguida: tem água mas é ruim. Seguiram para outras cidades onde realizaram o mesmo trabalho.
Por fim, anoitecendo rapidamente, decidiram dormir no pequeno lugarejo onde estavam. As estradas não recomendavam novos deslocamentos. Hospedaram-se no único lugar que havia. A pensão de Dona Otilia. Na verdade, um casarão de muitos quartos, com mais de 6 metros de altura. O banheiro, se assim pudesse ser chamado, ficava do lado de fora da casa, após a cozinha. A porta de saída era do tipo ainda hoje encontrado nas pequenas cidades do interior: meio porta, meio janela, ou uma porta serrada ao meio.
Pela madrugada sentiu enorme vontade de fazer “xixi”. Conhecia bem sua incontinência urinária. Sabia que quando a vontade batia tinha que correr pra não fazer nas calças.
Ao abrir a parte de cima da porta que dava acesso ao quintal e ao banheiro, eis que surge um “vira-lata”, desses mais brabos que cachorro de raça, com dentes e latidos assustadores. Não se arriscou ir mais adiante. Tateando na escuridão, passou a mão no primeiro vasilhame que encontrou. Tendo se “aliviado”, jogou o liquido resultante no coitado do cachorro. “Late agora, safado”, praguejou. Voltou a dormir. Pela manhã mesa posta e café fresquinho que tanto gostava. Mesa farta: cuscuz, mandioca, bolos diversos, pão, queijo coalho, etc. De imediato reconheceu que a vasilha usada na noite era o bule de café. Naquela manhã só tomou suco.