A Corda e a Vaca
Ele, a mulher e a sogra estão à procura da casa dos sonhos dela. Claro que os da esposa, a mulher. Mas há anjos que fazem isso pela sogra.
Você, sendo homem normal, nem queira saber (Se é que ainda não passou por essa experiência! ) como transcorre a procura de uma casa dos sonhos...
Bem, quando o sonho está mais ou menos delineado, até que é suportável a procura. Meu amigo...! Pense agora numa situação quando o sonho está nebuloso, pra não dizer totalmente indefinido. Não se sabe se a casa é pequena, média, grande, com ou sem piscina, telhado colonial ou do mais simples mesmo, se tijolo à vista ou não, se sobrado ou térreo, com muito ou pouco quintal, varanda ou sem...
Não vou me ater na da casa dos sonhos, até porque, se ficasse nela, o título seria outro. Não é verdade? Fica pra outra hora.
O foco é: a Corda e a Vaca.
Depois de dias de internet ( vendo todos os sites de imobiliárias e similares!), de trocas de idéias, opiniões de amigos, parentes ( da sogra... claro) comparações entre uma e outra, liga-pra-lá, liga- pra- cá, manda e-mail, responde e-mail... Chega o dia do coitado, ela e a sogra verem uma das mil e uma casas que acharam algo interessante durante a navegação. Não bem uma casa, mas a sede de uma chacrinha, esta com uns mil e oitocentos metros quadrados de área. Já a casa, uns quase trezentos e trinta e um metros, somando parte térrea e superior.
E as déias dela, ao ver aquilo tudo, começam a pipocar. O infeliz, afogado no atordoamento de seus pensamentos mais que ocultos, irreveláveis, se imagina logo em disparada carreira na direção do mais próximo precipício de onde nunca mais desejará voltar. Se vai ficar vivo depois de se atirar, isso pouco importa naquelas horas, o que vale mesmo é sumir.
Da frente da chacrinha não se consegue avistar o fundo, de tão grande que é. A empolgação dela é tanta diante daquilo tudo que a nada se compara. E diz:
__ Vamos arrancar aquelas árvores dali e dá um jeito de plantá-las naquele direção acompanhando o muro ali - indicando com o braço.
Reflete um pouco mais com o dedo indicador tocando logo abaixo dos lábios inferiores.
__ Não, acho melhor aculá. Ficarão mais lindas!
E prossegue.
__ Sabe, aquele montão de terra ali __ o que que saiu do buraco da piscina não terminada__, pois bem, vamos movê-lo para próximo daquele coqueiro baiano. Lá faremos o playground das crianças, para elas subirem e descerem escorregando enquanto as mães se distraem comendo ou comprando algumas coisas.
E vai.
__Isso mesmo, com o tamanho dessa casa dá até pra fazer um café colonial e vender algumas coisas úteis, ou não, pra mulherada.
E continua a disparar idéias pra todos os lados. São tantas que o infeliz imagina-se rodopiando num só lugar como se fosse um furacão. Tal seriam a força e a velocidade do movimento e mole-mole chegaria no Japão pelo buraco feito no chão.
Nesse tempo todo, por incrível que pareça, a sogra nada fala. Fica só admirada e orgulhosa das idéias da filha. Suas feições bem comprovam isso.
E a Abigail __ esse é o nome da mulher__ sai mais com essa:
__ Uma vaca! __ Quase gritando e com as feições de quem acaba de descobrir a misteriosa fórmula da coca-cola.
__Quê?! Onde?! Qual!? Pelo amor de Deus, essa vaca vai pegar a gente. Vamos correr! Por aqui... __ Assim reagiu o infeliz ao ouvir do animal chifrudo e já se movimentando em busca de um lugar pra se abrigar do pior.
__ Calma, Aroldo...!__ eis o nome dele __ Num tem nada de vaca viva por aqui, deixa de ser frouxo, home. É apenas uma idéia que estou tendo da gente comprar uma vaca pra servir leite fresquinho pros clientes do café colonial.
Por essa o Aroldo não esperava. Ficou atônito sem saber o que fazer da vida. Restou apelar para a sogra, que como já disse, nada falara até ali. E comentou, desesperado, voltando-se para a D. Zuleica, a sogra:
__ Isso tem cabimento, D. Zuleica? Pode passar pela cabeça de alguém comprar uma vaca nessas circunstâncias?__ E dá uma pausa a espera de que a cobra, digo, a sogra fale, certo dela concordar com ele, para depois prosseguir sepultando o fantasma da vaca.
__Tem, sim! Basta arrumar uma corda e amarrar a bicha por ali pra não fugir! – apontando numa direção variável.
E o abobalhado, lá, com os olhos arregalados e mãos na cabeça deixando os poucos cabelos bagunçados , já pensando onde conseguir uma vaca com bezerro e dando leite, claro! No cocho que teria de fazer, no pequeno curral, no banquinho pra tirar leite, no capim, no medicamento, no veterinário, na merda pra limpar, levantando cedo pra apartar o bezerro, e em tirar o leite lá pelas cinco da manhã...