O Xodó de seu Irineu
Era mais do que um montão de ferro, fios, parafusos, vidros, rodas e borrachas. Era uma presença constante nas horas alegres, nas horas amargas. Presença constante, sim. Pois as provas estão registradas nas fotografias amareladas e manchadas pelo tempo. O seu xodó rechonchudinho está presente em todas as imagens.
Mas um dia a moda pegou. Quem tinha um daqueles tinha prestígio e algo de valor. Seu Irineu era chamado de sentimental e jamais imaginou que olhos maus estavam atentos, à espreita. Alguns diziam até que a ‘carcaça’ só serviria para ferro velho!
O seu era de 1960. Preservado, por muitos admirados. Até o nome da rua sofreu alteração. Se quisessem indicar o caminho bastava informar: “Fica na rua do fusquinha”. E todos sabiam onde encontrar.
Chegaram usando sapatos de lã. Sem dificuldade, os larápios entraram na garagem levando o xodó, o amigo, o seu cinquentão... Seu Irineu chorou, sofreu, sentiu-se órfão. É que perdido o fusquinha descobriu que se fora parte de sua história.