ZÉ GORDO
Z É G O R D O
(Em 1974 eu tinha 16 anos; e ele, o ZÉ tinha 13)
Estamos no XIXÁ, Rua 55, s/n – Vila Marília. Quem disser que não existe este endereço que venha debater comigo ou vá para PQP.
Seio da família PULEIRO. Caso alguém queira discordar está no direito, contudo sem ter o dever, portanto afirmo que incorrerá no dito acima: vá para o PQP!
Temos um primo, jovem ainda, mais ou menos treze anos. No entanto tem a aparência de um hipopótamo, pois é gordinho como o tal.
Seu nome completo ninguém sabe, nem ele mesmo dá sinal de saber, se diz chamar José Gomes, por que não temos a menor idéia, já que nem seu pai e nem sua mãe trazem este “Gomes” no nome. Mas ele quer, está no direito. Quando precisamos nomeá-lo com seriedade o chamamos de Zé da tia Ana. No nosso meio de farra e algazarra o denominamos de Zé Gordo. Só para sacaneá-lo o batizamos com o pseudônimo de Judas dos Cavalos.
O Córrego da Onça, especificamente na casa do tio Zé Teixeira, têm vários eqüídeos, machos e fêmeas, dizem as más línguas que lá ele traiu os machos, deixando as fêmeas apaixonadas nos seus carinhos.
Além de gordo, aparentemente não tem nada que o desabona fisicamente, já que sua feiúra é genética. Porém organicamente não se pode dizer o mesmo. Ele sua como tampa de chaleira, principalmente o rosto, e mais ainda na região do buço. Chega a ser irritante tanto suor. Outra coisa agastante nele é sua risadinha, com som de roçar de bastões de vidro.
Se fisicamente ele é normal, aos nossos olhos, não podemos dizer o mesmo sobre sua moral. Não que seja imoral de tudo, um relacionamento conjugal com éguas não rebaixa ao lamaçal. São atitudes bobas e corriqueiras, e por assim ser que o apresenta-nos sem moral, que não é o mesmo que imoral.
Exemplo de falta de ética:
- Me dá o kimbinha!
Estas suas palavras se referem ao guimba de cigarro, no qual ele é viciado, mas nunca tem dinheiro para comprar, assim fica pedindo aos outros.
Todo tipo de comunicação verbal com ele ou próximo dele, sem nem ao menos se referir a ele, lá vem esta locução.
- Sim, sim entendo!
Os outros meninos parentes e/ou amigos dele não o respeitam, também o inverso é verdadeiro. Referem-se a ele como o panaca, que calça as botinas nas mãos e as luvas nos pés; escova as unhas e cortas os dentes; dome com os olhos abertos e fecha-os estando acordado. Se com tudo isto tenta fazerem dele um renegado, perderam o tempo, porque apesar de ser irritante sua presença, o adoramos como parente e amigo.
(24/01/1974)