NUMA MANHÃ DE JUNHO
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Numa manha de Junho, de madrugada, o Pedro estava sentado sossegadamente ao pé da lareira da sala de sua casa.
Entretanto o sol estava quente. E o Zé Maria trabalhava de manha antes do sol nascer. E uma multidão de gente se preocupava com o Futuro. Mas a Clarisse chorava muito,
porque foi despedida de trabalhar. E a vida do País estava
cada vez pior, os ordenados aumentavam muito pouco. O custo de vida aumentava muito.
- Isto é uma merda! – Respondia muito triste o Pedro. Enquanto ia governando o Povo como queria. Pois quem tem culpa é o Povo, que vai votar nos partidos. E os Partidos só servem para dividir as pessoas.
E numa conversa muito séria, o Zé Maria que trabalhava e que ganhava pouco, revoltava-se como o mar se revolta contra o barco.
Nós trabalhamos para os outros encherem os bolsos! E os políticos
prometendo e não faziam nada. As mulheres ficaram sem maridos, porque os seus maridos morreram de fome e dizia-se que tínhamos uma democracia.
Os ventos sopravam leste. Certo dia no mês de Junho, ouviam-se gritar de dor, crianças abandonadas dos maus-tratos pelos pais como frutas abandonadas pelos proprietários.
Muitos pais, que em vez de arranjarem emprego aos seus filhos
preocupavam-se em arranjar Pensões de miséria, esqueceram-se que
seus filhos precisavam de trabalhar e que tem direitos à vida.
Quantas noites mal dormidas, o nosso Povo passou mal não tinham pão para comer. É bem verdade que a ditadura de Salazar e de Caetano era má, mas não havia nada disto.
( Os militares e os políticos fizeram o 25 de Abril, mas este País
Continua na mesma).
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- Isto cada vez está pior! – Retorquiu a Clarisse, cheio de filhos, que precisavam de comer, e ela recebia uma pequena tensão, que não davam para nada. E os vizinhos com pena dela, não podiam fazer nada, ela vivia numa aldeia perto da cidade de Cascais, seu marido trabalhava numa fábrica mas em condições tristes.
Uma das suas filhas era deficiente mental, tinha uma pensão de
Invalidez e trabalhava porque a sua Pensão não dava para viver. Tinha um irmão mais novo, o Ricardo, que esse era normal e muito
Inteligente e aprendia muito bem, mas era uma família muito pobre e o Ricardo só podia fazer a 4ª classe e nas férias trabalhava para ajudar o pai e a Mãe.
- Porque estás a chorar, perguntava o Pedro a uma criança vadia, abandonada, na rua! E nessa tarde o dia estava calmo. Então o garoto.
Concertou dizendo. – Tenho fome, tenho fome! passavam uma multidão de gente e não davam atenção nem se preocupavam com esta criança! E o Pedro ficou triste, não sabendo o que fazer. Ao longe um canteiro de flores e um jardim de tristezas.
Todo o Mundo trabalhava. Os idosos, os inválidos tinham uma Pensão de miséria e o governo aumentava muito pouco, ouviam-se tiros duma arma dum polícia, que acertou num bandido, que estava a roubar dinheiro num Banco.
- Quem tem pena de mim? – Perguntou um desgraçado que vinha na rua. E na estrada vinha um automóvel no seu caminho, pois o automobilista vinha a conduzir para a sua casa.
E o Zé Maria muito preocupado respondeu, como a lua responde ao sol – Vai trabalhar!
E se não poder, pedes que te ajudem a resolver o teu problema! Era assim a mentalidade deste País e deste Povo.
Em todo o Pais, os Patrões despediam sem justa causa os empregados. Os operários da construção civil e outros que ganhavam mal.
Mais dinheiro, mas os Patrões iam à falência e então tinham que despedir os operários. E muitas desta gente tinham que emigrar,
para o estrangeiro, sujeitando-se a empregos de quinta categoria,
para ganharem muito dinheiro.
O que está bom neste Pais é quem vai para a frente, são os que têm cabeça, os outros ficam para trás.
Felizmente já não há a PIDE, mas devia de haver uma Policia Forte para acabar com a pouca vergonha e falta de respeito e dar respeito a este Pais.
Como este Pais pode arranjar empregos para tanta gente? Ciganos, arraianos, indianos, pretos, mulatos, mestiços, cabritos; (africanos) Soviéticos de Ucrânia, emigrados e instalados
Aqui, chineses, japoneses, ingleses, americanos, açoreanos etc.
Nós que somos daqui, não temos direito, até os retornados de Angola e Moçambicanos, Cabo-verdianos de Cabo Verde, os da Guiné etc., em vez de estarem no Pais deles, estão aqui e os nossos que foram para lá, porque é que não ficaram por lá? Só vieram prejudicar este Pais.
A Filipa e os seus colegas, fizeram greves, como os da rodoviária, os da CPE, , eletricistas, etc., para aumento dos ordenado e os do
Aeroporto para que lhes dêem boas condições de vida.
- Mas a droga deste Pais é! – Reclamou a Marta colega da Filipa,
como o vento reclama ao sol que no Inverno venha chuva e frio.
Mesmo assim, nas praias de Carcavelos e Costa da Caparica, Cascais e Estoril ainda se vêem muita gente, porém mesmo assim isto mudou para melhor.
Passaram-se três meses. E a vida do País continuava. As fábricas
despedindo pessoal. E a miséria continua.
A agricultura cada vez decadente. Os proprietários despedindo os caseiros. Diminuindo o pessoal. A economia do País em crise. Os rurais, os Pedreiros, carpinteiros, os mineiros revoltados. Isto estava cada vez pior. Os políticos enganando o Povo. E o Povo cada vez na mesma. os Capitalistas satisfeitos e contentes e felizes.
E o País estava atravessar a banca rota. E o Povo descontente e infeliz e triste.
Depois duma ditadura, se deu o 25 de Abril, a pouca vergonha
deste País aumentava cada vez mais, cada vez há mais desemprego, mais marginais à solta, mais criminosos e assassinos, mais ladrões, mais vigaristas e o governo não põem mão a isto.
A Filipa, rural mal ganhava para comer, passava fome.
- Quero mais dinheiro – dizia ela revoltada, a vida era difícil para todos. E custa a ganhar e custa a viver. As bocas são todas iguais.
Um dia a Filipa encontrava-se na missa com a Clarisse que era outra desempregada onde trabalhava.
O Patrão da Filipa, era o senhor Manuel, que lhe dava trabalho, todo o dia, mas que o explorava.
Esquecia-se ele, que a terra é de quem a trabalha e não de quem a tem.
Acabou-se com o fascismo, com a censura, com a PIDE, mas não se acabou com o resto. Os desempregos são constante e o Socialismo
Ficou nas gavetas. O que se fez depois do 25 de Abril, foi a Liberdade, a democracia, foi o melhor que houve.
- Quem me dera no tempo de Salazar! – Concluiu o Senhor Manuel, desgostoso, pois ele, agora já não podia fazer o que queria!
LUÍS COSTA
LAMEGO, 10/08/1977
AMADORA, 3 DE FEVEREIRO DE 2005