DA INTIMIDADE DUM CONTAINER...

Ela saiu.

Saiu de dentro dos restos fétidos, dum cáustico mix de resíduos mau cheirosos que sequer deveria odorizar a ficção dos livros, quanto mais as páginas da vida humana, porém, ali ela exalava a mais perversa e pura realidade das ruas.

Surrealizada pela vida, amedrontada, deitou com dificuldade na maca dos tantos diagnósticos vãos e tardios.

Sua doença gritava aos olhos cegos do poder daqueles que ainda acreditam ter nas mãos a condução das vidas.

Há canetas que não servem para nada! Hoje sei disto.

Seu abdomen extremamente flácido e esfarelado pela desnutrição vinha herniado, quase a varrer o chão tão duramente pisado pelos seus negros pés descalços e rachados.

E ali, sem saber de si e do mundo, ela nos questionava com os olhos secos e balbuciava uma ininteligível língua de gente, a nos registrar que há várias maneiras milagrosas de se manter viva, ainda que morta para os caminhos perdidos do Homem.

Então senti que...a vida nos escreve cenas tão fortes que até as letras choram.