O Inferno de Dante
Cansado, depois de um dia daqueles, mal pisou dentro de casa e a metralhadora verborrágica disparou.
– "Você não disse que chegaria às sete? Já deu uma olhada no relógio?"
– "Claro!" – responde o marido, já prevendo o que teria que enfrentar.
– "Pois, então, Dante. São quase dez, onde você estava?" – pergunta a mulher, intimando e aumentando o volume da voz.
– "Estava no escritório, Maria Clara!" – ele responde abrindo a porta da geladeira pra pegar a garrafa d’água.
– "No escritório... Sei, no escritório... No escritório coisa nenhuma. Você estava bebendo com aqueles amigos pervertidos, que só sabem falar de mulher" – explodiu ela, quase que espumando pela boca de tanta raiva.
– "Eu não estava com amigos, muito menos bebendo. Eu estava no escritório terminando relatórios que tenho de entregar na segunda-feira. Eu preferi terminar o meu trabalho lá, pra não ter que trabalhar em casa nesse fim de semana. Entendeu, Maria Clara?"
– "Você acha que eu sou boba? Você acha que me engana? Eu sei muito bem que você estava com aquela corja que você chama de amigos. Enquanto isso, eu aqui cuidando das crianças... Você sabia que eu fui chamada na escola por causa do Juninho? O comportamento dele está cada vez pior: conversa o tempo todo em sala de aula, bate nos amiguinhos e discute com a professora. A diretora disse que, se não melhorar, ele será convidado a mudar de escola... O vaso sanitário do banheiro das crianças entupiu. Você não está sentido o cheiro que tomou conta da casa?... A Teresa não veio trabalhar hoje e eu tive que arrumar a casa sozinha... O cachorro da Clarinha vomitou o dia inteiro, não sei o que foi que aquele desgraçado comeu, mas é uma sujeira só... O rapaz que viria arrumar o aquecedor a gás, não veio, e nós estamos sem água quente... Eu engoli o dente que o Dr. Carlos implantou na semana passada. Você não viu que eu tô banguela?... E você, Dante, bebendo com os amigos e falando de mulher!"
– "Eu não estava bebendo, Maria Clara!"
– "Estava sim!" – esbraveja a mulher indo pra cima do marido.
– "Que é isso, Maria Clara! Pára com isso!" – diz ele tentando conter a mulher que de qualquer modo tenta cheirar a sua boca.
– "Deixa eu cheirar... deixa eu cheirar essa boca fedendo a álcool!"
– "Você enlouqueceu!" – o homem grita, se desvencilhando da mulher. Em seguida, pega a chave do carro e dirigi-se à porta de saída da casa.
Transtornada, ela pergunta – "Aonde você vai?"
– "Vou pro sítio!"
– "Pro sítio? O que é você vai fazer naquele ermo numa hora dessas? Lá é tão precário. Não tem luz, não tem água encanada, não tem nem cama, e ainda por cima aquele monte de pernilongos. O que você vai fazer naquele sítio horroroso sem conforto, Dante?"
– "Qualquer lugar no mundo longe de você é um paraíso, Maria Clara!" – decretou o marido saindo pela porta da sala levando consigo uma caixa de comprimidos pra dor de cabeça.
Cansado, depois de um dia daqueles, mal pisou dentro de casa e a metralhadora verborrágica disparou.
– "Você não disse que chegaria às sete? Já deu uma olhada no relógio?"
– "Claro!" – responde o marido, já prevendo o que teria que enfrentar.
– "Pois, então, Dante. São quase dez, onde você estava?" – pergunta a mulher, intimando e aumentando o volume da voz.
– "Estava no escritório, Maria Clara!" – ele responde abrindo a porta da geladeira pra pegar a garrafa d’água.
– "No escritório... Sei, no escritório... No escritório coisa nenhuma. Você estava bebendo com aqueles amigos pervertidos, que só sabem falar de mulher" – explodiu ela, quase que espumando pela boca de tanta raiva.
– "Eu não estava com amigos, muito menos bebendo. Eu estava no escritório terminando relatórios que tenho de entregar na segunda-feira. Eu preferi terminar o meu trabalho lá, pra não ter que trabalhar em casa nesse fim de semana. Entendeu, Maria Clara?"
– "Você acha que eu sou boba? Você acha que me engana? Eu sei muito bem que você estava com aquela corja que você chama de amigos. Enquanto isso, eu aqui cuidando das crianças... Você sabia que eu fui chamada na escola por causa do Juninho? O comportamento dele está cada vez pior: conversa o tempo todo em sala de aula, bate nos amiguinhos e discute com a professora. A diretora disse que, se não melhorar, ele será convidado a mudar de escola... O vaso sanitário do banheiro das crianças entupiu. Você não está sentido o cheiro que tomou conta da casa?... A Teresa não veio trabalhar hoje e eu tive que arrumar a casa sozinha... O cachorro da Clarinha vomitou o dia inteiro, não sei o que foi que aquele desgraçado comeu, mas é uma sujeira só... O rapaz que viria arrumar o aquecedor a gás, não veio, e nós estamos sem água quente... Eu engoli o dente que o Dr. Carlos implantou na semana passada. Você não viu que eu tô banguela?... E você, Dante, bebendo com os amigos e falando de mulher!"
– "Eu não estava bebendo, Maria Clara!"
– "Estava sim!" – esbraveja a mulher indo pra cima do marido.
– "Que é isso, Maria Clara! Pára com isso!" – diz ele tentando conter a mulher que de qualquer modo tenta cheirar a sua boca.
– "Deixa eu cheirar... deixa eu cheirar essa boca fedendo a álcool!"
– "Você enlouqueceu!" – o homem grita, se desvencilhando da mulher. Em seguida, pega a chave do carro e dirigi-se à porta de saída da casa.
Transtornada, ela pergunta – "Aonde você vai?"
– "Vou pro sítio!"
– "Pro sítio? O que é você vai fazer naquele ermo numa hora dessas? Lá é tão precário. Não tem luz, não tem água encanada, não tem nem cama, e ainda por cima aquele monte de pernilongos. O que você vai fazer naquele sítio horroroso sem conforto, Dante?"
– "Qualquer lugar no mundo longe de você é um paraíso, Maria Clara!" – decretou o marido saindo pela porta da sala levando consigo uma caixa de comprimidos pra dor de cabeça.