A BANHEIRA DA FELICIDADE
Na verdade não possuo uma banheira em minha casa, mas adoro quando tenho a oportunidade de usar uma. E já faz um tempão que não sei o que estar em uma banheira.
Hoje havia produzido muito em meu trabalho tinha alcançado a maioria dos meus objetivos. Apesar do dia anterior, eu ter perdido o sono esperando o filme baixar da internet, já que não consegui achar nos últimos 60 dias e era essencial para meu projeto na escola. Estava tão feliz com o rumo da minha vida tanto o profissional quanto o pessoal que o sono não chegava. Depois de ter visto que o filme estava no ponto tentei dormir. Mas minha mente teimava em pensar no meu futuro bom e imaginar como poderia ser sem compromisso algum de se realizar. Bastava o prazer de imaginar cada desejo realizando do lado do homem que eu amo. Assim passei a madrugada até que cochilei e já era hora de levantar para ir trabalhar. Custei a sair da cama o sono havia chegado e simplesmente tinha compromisso. Levantei e olhei para a foto na cômoda e sorri. Meio que dormindo tomei meu banho, me arrumei como de costume, dei um pão para cada um de meus cães e sai ainda sonada.
Cheguei à escola não consegui passar o filme porque o equipamento estava com defeito, mas como eu tinha o plano B dei outro filme que também atendia ao meu objetivo. Corri o dia todo entre uma tarefa e outra que despedia os projetos que eu estava coordenando. Fiquei das sete horas da manhã até as dezoito e trinta na escola. Já tonta de sono ainda passei para ver minha mãe e esperei a chuva passar para ir embora para casa. Cheguei tão cansada que não consegui deitar e dormir como queria. Vi o filme que tinha preparado e não foi possível passar. Adoro este filme é muito significante para mim o veria milhares de vezes e acho que o verei ao longo da minha vida.
Sentia dores no corpo e nas pernas resolvi fazer um escalda pés. E quando mergulhei meus pés na água quente, deliciosamente muito quente. Subiu a sensação incrível de aquecimento e então imaginei uma banheira cheia de água quente eu mergulhava meu corpo cansado. Fiquei neste torpor delicioso lembrando os momentos em que me deliciei em uma. Ah eu tive a certeza que logo estaria em uma, sozinha curtindo meu corpo, meu agora.
Lembrei a minha infância simples de filha de aposentado e que não tinha muito recurso para coisas como uma banheira, mas tínhamos algo tão bom quanto. Uma bacia que tomávamos banho em uma casinha com o fogareiro e com espaço para a bacia. Meus pais haviam construído esta no quintal onde esquentávamos a água e ali tomávamos banho. Eles nos diziam que era para a gente saber como era que eles tomavam banho na roça, mas hoje sei que era por necessidade. Meus pais nos protegiam sem nos tirar da realidade, apenas nos davam o necessário de informação para sabermos valorizar o que tínhamos.
Lá depois de esquentarmos a água com a lenha conseguida de restos de construções, morávamos na capital do país, porém estávamos como na roça. Eu tinha por volta de meus 10 a 14 anos de idade, não me recordo bem. Mas da sensação de ficar ali até a água perder o calor eu me lembrava muito bem. Sentia uma alegria e deixava minha mente voar a vontade. Imaginava que eu morava em um sítio em épocas bem antigas onde se tomava banho em toneis. Via em minha mente um campo, circundando aquele lugar, com um capim alto que dançava ao ritmo do vento. Ficava ali naquela casinha romanceando minha vida e me perguntava se não podia ter vivido assim em algum passado. Eu fui feliz naqueles momentos lúdicos da minha pré-adolescência. Eu fui feliz nas banheiras de hotéis pelos quais passei. Eu sou feliz agora com um balde de água que mal chega a molhar meu tornozelo.
A felicidade não está fora em banheiras de hidromassagens, em sítios imaginários, em bacias cheias de água e fantasias infantis e nem mesmo em baldes com água quente.
A felicidade esta na alma da gente. Esta na lucidez de se entregar ao agora. Está na entrega e irrestrita da alma a existência sem medo ou resistência, está no viver plenamente sob qualquer aspecto. A felicidade está no aproveitar do hoje, do agora e deixar o universo ser uno consigo mesmo. Está no deliciar com que se é, na alegria de não ter máscaras e nem receios do que virá, pois não importa mais o amanhã, pois o que se tem é o agora.
Eu venho aprendendo dia após dia a deliciar-me no meu agora.
Sei... E como sei que nem sempre é fácil ser assim.
Porém não desisto.
Agora eu posso dizer: SOU FELIZ!
Agora é meu agora.
Fatinha Yoursun - 16/05/2011.